Banco digital peruano B89 quer captar US$ 10 milhões, entrar nos EUA e fechar parceria com brasileiro

O banco digital peruano B89 quer ser o Nubank dos imigrantes latinos nos Estados Unidos. O espanhol Mauricio Alban-Salas, um dos sócios fundadores do banco, sofreu na pele as dificuldades de abrir uma conta bancária quando era estudante nos EUA, com 17 anos; depois, acabou fazendo carreira como executivo de diversos grandes bancos tradicionais, entre eles o Itaú, Scotia Bank e Santander, em vários países nas Américas e Europa. 

“Quando o Nubank entrou no Brasil eu percebi que era o modelo de banco que sempre acreditei. A diferença é que o foco do Nubank é alta renda, e o B89 quer ser o banco do imigrante com poucos recursos”, explicou, em entrevista exclusiva à Fintechs Brasil. Nesse sentido, o B89 segue a linha do britânico Revolut.

Para atender a comunidade hispânica nos EUA – o que inclui parcela de brasileiros que vivem na Costa Oeste, que por afinidade acabam convivendo e virando “hispanoamericanizados” também – o B89 esta fechando parcerias com fintechs nos próprios EUA e nos países de origem desses imigrantes. No Brasil, estão conversando com o Z.ro Bank, mas ainda não fecharam. O próximo passo deppis dos EUA é abrir filial na Espanha.

“Um peruano que mora nos EUA vai poder abrir sua conta no B89 nos EUA e fazer todas as operações bancárias, desde pagar celular e aluguel a comprar com cartão; mas também poderá abrir a conta no B89 do Peru e movimentar dinheiro de uma conta para outra como se fosse uma simples transferência. A partir dos EUA e da Espanha, queremos atuar como emissário de remessas. O México, por exemplo, é grande receptor de remessas”, explica.

Procurando um fundo

O B89 fez uma rodada de captação pre seed, quando levantou US$  500 mil no ano passado – os principais acionistas são investidores anjo do Peru e Brasil. Na segunda rodada, que está em andamento, quer levantar US$ 3 milhões: “Já conseguimos a metade”, informa. Embora para os padrões brasileiros esse volume seja pequeno, para o Peru não: o B89 foi uma das fintechs que levantou mais dinheiro nesse pouco tempo. “

Estamos procurando terminar com um pouco mais de investidores anjo e também atrair um fundo que lidere essa rodada atual, e faça follow up na rodada A, quando queremos captar US$ 10 milhões”. Segundo o sócio, há vários fundos interessados. “Passamos na peneira da aceleradora americana Y Combinator, por onde também passaram startups que hoje são ícones, como o AirBnB”, revela.

O banco tem sede no Peru – dois dos sócios de Alban-Salas são de lá, e o quarto é da Argentina. “O Peru tem um sistema bancário muito parecido com o do Brasil, de oligopólio – quatro instituições controlam 87% dos ativos. As taxas de juros são altíssimas. É um ecossistema que apresenta grande oportunidade de entrar com uma oferta diferente de banking e de crédito. Lançamos o nosso cartão em agosto e temos uma lista de espera de 25 mil pessoas. Estávamos indo devagar, testando o sistema para garantir que tudo funcione corretamente. Daqui para a frente, vamos escalar”, avisa. O B89 vai lançar novas funcionalidades no cartão de crédito e seu cartão prepago. “Além dos meios de pagamento, vamos implantar outros serviços”.

Alban-Salas se diz surpreso com a quantidade de hispânicos ilegais desbancarizados nos EUA. Segundo ele, não há impedimento legal para abrir uma conta mesmo assim, e o B89 quer focar nesse público. “É fácil irmos para outro país porque nossa plataforma foi desenhada e construída desde o começo  para plugar em serviços locais de terceiros, que façam a conexão com o processamento nativo do país. Muitas empresas nos EUA já oferecem isso para fintechs. Nos EUA, o regulador pode conceder licença para operar e licença para processamento junta ou independente uma da outra”, afirma.

Princípios ESG

Os sócios do B89 também têm preocupações com os princípios de governança, sustentabilidade e preservação ambiental (ESG, na sigla em inglês). “Decidimos ser um banco distinto não só na parte funcional mas nos valores e princípios. Procuramos e seguimos o exemplo de quem havia sido revolucionário na última década. Defendemos o capitalismo consciente; além de gerar lucro, queremos cuidar do resto do ecossistema: colaboradores, parceiros, acionistas, comunidade. Defendemos a transparência e preços justos; não queremos ganhar dinheiro confundindo os clientes”, diz.

O B89 também está investindo no desenvolvimento de um software que mede a pegada de carbono quando um cliente seu faz uma compra; a ideia é incentivar a redução do consumo supérfluo gerando bônus de carbono.

O nome B89 tem que ser desdobrado para ser entendido: B é de “bem-estar” e 89 foi o ano que nasceu a internet – e também o ano da queda do Muro de Berlim, por exemplo. “Foi um ano de grande transformação no mundo”, lembra. Para completar, ainda tem o slogan que diz tudo: “Não somos um banco”.