Prospectiva 2021: Oportunidades para as fintechs no ano novo

Em vez de escrever uma retrospectiva de 2020 no dia 31 de dezembro, repetindo tudo o que já foi publicado aqui e que pode ser facilmente acessado pelos leitores, aproveitamos o primeiro dia útil do ano para tentar prever o futuro que 2021 promete. Há grande risco de errar, claro. Mas o retorno compensa: mapear oportunidades para as fintechs alavancarem seu crescimento no ano novo.

Para começar, três dicas colhidas diretamente de leitores e fontes de Fintechs Brasil. Todas são áreas com demanda crescente e ainda pouco exploradas pelas fintechs brasileiras.

1 – Contabilidade para startups

2 – Bancos digitais para empresas

3 – Identificação biométrica

Para João Bezerra, investidor anjo e líder do “pool” de fintechs da Bossa Nova Investimentos, bancos digitais voltados para empresas são uma oportunidade para fintechs que souberem atender bem esse nicho, que no Brasil ainda é servido por poucas. “É a nova onda”, acredita o CEO da Conta Simples, Rodrigo Tognini. A fintech é uma das três ‘Top of Mind’ sempre que o assunto é banco digital para PJs por aqui.

Há muitas fintechs especializadas em crédito para micro, pequenas e médias empresas no Brasil, mas as que oferecem conta corrente para esse público são poucas. Ao contrário das contas digitais para pessoas físicas, as contas para empresas têm exigências mais complicadas a serem cumpridas. Não é simples.

Já fintechs de contabilidade – que resolvem digitalmente pagamentos de taxas, impostos e outras obrigações fiscais das empresas – também andam em falta, principalmente em se tratando das especializadas em startups de finanças. Carlos Moreira, da CM Consultores, que o diga – recentemente, Magno enviou ao portal Fintechs Brasil uma solicitação para publicar material sobre o assunto (que será atendida ainda nesta semana!)

“Identificação biométrica é outro segmento em alta para se acompanhar de perto em 2021 no Brasil”, diz Bezerra. No segundo ano da pandemia, soluções “contactless” para acesso a serviços financeiros serão cada vez mais demandadas.

Além dessas três, citamos outras 12 ao longo desse artigo, totalizando 15 áreas para fintechs acompanharem e/ou investirem em 2021:

  • Varejo/e-commerce
  • PIX
  • Open Banking
  • Crédito para segmentos em expansão (healthtechs e fazendas verticais)
  • Soluções sob medida para novos nichos
  • Cybersegurança
  • Moedas digitais
  • Colaboração com bancos
  • Aplicação de novas tecnologias em soluções financeiras
  • Plataformas de investimentos
  • Bancos digitais
  • Parcerias com grandes empresas via incubadoras/aceleradoras

O que monitorar

Para ajudar a identificar outras oportunidades, recorremos à publicação The World in 2021, publicada na última semana de 2020 pela The Economist. A edição especial da prestigiada revista britânica começa apontando dez tendências a se observar em 2021. O texto é assinado pelo editor Steve Carroll.

Das citadas, pelo menos uma afeta diretamente as fintechs: será que os avanços tecnológicos que foram adotados à toque de caixa, forçosamente, para enfrentar a pandemia, vieram para ficar?

“Alguns novos comportamentos permanecerão, mas não todos, e o resultado estará em algum lugar no meio”, palpita outro editor da The Economist, Tom Standage, em seu artigo “After the tech-celeration” (algo como “Depois da aceleração tecnológica”). Entre os que podem desacelerar assim que a vacina chegar, estão o hábito de assistir aulas e reuniões online; também o trabalho remoto deixará de ser obrigatório.

Mas, e em relação às “acelerações tech” desencadeadas pela pandemia que são relacionadas a meios de pagamento: carteiras digitais, moedas digitais, e-commerce, QR Code, NFC e biometria facial e de voz? Já percorreram um caminho sem volta?

“As transações financeiras estão mais fáceis e tendem a ficar cada vez mais com o PIX. A digitalização trouxe uma experiência muito melhor para os clientes em mais de uma frente”, lembra Gustavo Ioriatti, diretor comercial da Linx Pay Hub. O PIX é sem dúvida um campo vasto a ser explorado pelas fintechs em 2021.

Paul Fabara, diretor de riscos da Visa, disse recentemente ao site ComputerWorld que os volumes dos pagamentos em tempo real continuarão crescendo em 2021, as moedas digitais continuarão se popularizando e a privacidade de dados e do consumidor continuará sendo um dos tópicos mais discutidos. Para ele, fintechs e bancos centrais precisam implantar mecanismos capazes de identificar padrões atípicos que podem sinalizar uma fraude – esta é outra boa oportunidade a explorar.

Em meados do ano passado, a Juniper Research divulgou a pesquisa Open Banking: Oportunidades, Desafios e Previsões de Mercado 2020-2024. De acordo com a consultoria, o volume de transações globais com Open Banking – que começa no Brasil em fevereiro – passará de 18 milhões no final de 2019 para 40 milhões em dezembro deste ano.

Mesmo com um ano promissor à frente, é importante que as fintechs sejam guiadas por inovação, e resistam a oferecer mais do mesmo, ensina Bezerra. Para ele, estamos entrando em uma era em que as startups de finanças realmente disruptivas não são mais fintechs, mas techfins – este é um tema para uma próxima reportagem!

Varejo, um caso à parte

O estrondoso crescimento do e-commerce no mundo abriu uma estrada de oportunidades para fintechs. Seja prestando serviços para varejistas, seja sendo absorvidas por elas, seja criando seus próprios marketplaces. As fronteiras entre bancos, fintechs e varejo ficaram muito mais fluidas pós pandemia.

As vendas globais do varejo devem crescer 3% em 2021, mas as do varejo online 10%. Quase metade dos americanos com mais de 55 anos entrou nessa em 2020, segundo pesquisa da e-Marketeer. “Os marketplaces locais estão desbancando gigantes como Amazon”, diz o especial da The Economist.

No Brasil, pelo menos 40 fintechs já prestam serviços para o varejo (veja a lista aqui).

Com números como esses acima, não é a toa que os grandes players passaram a se movimentar.

A Via Varejo – dona da Casas Bahia e Ponto Frio – comprou a BanQi para administrar seus carnês, e uma parte do hub de inovação Distrito.me. A Magazine Luiza criou uma área de fintechs, lançou o Magalu Pay e ao apagar das luzes de 2020 anunciou a compra da Hub Fintech.

A C&A acaba de encerrar seu primeiro programa de aceleração em parceria com a Endeavor – durante o processo, contratou sete startups (Bornlogic, Catwalk, Harmo, Looqbox, Pulses, Revex e Winnin) para implantar soluções inovadoras para otimizar processos e oferecer novas experiências de compra.

A Ame Digital, da Americanas e B2W, comprou em dezembro a Bit Capital, uma pequena startup financeira que atua com blockchain e open banking; e a Parati Crédito, por R$ 34 milhões.

O Carrefour comprou a e-Wally e está transformando seu banco no Brasil em uma “fintail”- um misto de fintech e retail (varejo, em inglês), segundo revelou o CEO da instituição, Carlos Mauad.

De olho no futuro

A edição especial da The Economist aponta algumas áreas muito promissoras para 2021, e entre elas pelo menos duas – fazendas verticais hightech e healthtechs – devem despontar no Brasil e precisar de financiamentos para crescer. Essa é uma boa oportunidade para fintechs de crédito investirem.

Tudo indica que, em 2021 a especialização continuará um ‘must’. Fintechs focadas em nichos, para tudo e para todos, cada vez mais ‘taylor made’, devem seguir crescendo. Fintechs para caminhoneiros, salões de beleza, academias de ginástica, bares e restaurantes, autônomos, dentistas, clínicas médicas, microempreendedores, mulheres, agronegócio, negativados… o importante é encontrar a “dor” financeira do segmento e usar a tecnologia para resolvê-la. Ainda existem vários nichos não atendidos.

E, apesar da recente proliferação de bancos digitais e plataformas de investimentos por aqui, ainda há espaço para crescer. Segundo levantamento da Akamai Technologies com mais de mil correntistas de diversos bancos brasileiros em 2020, somente 43% possuíam conta em algum banco digital – é mais que o dobro dos 18% em 2019, mas ainda não contempla nem a metade dos brasileiros. Dos que ainda não usavam serviços financeiros ofertados por empresas de fora do setor, somente 7% afirmaram sequer considerar a alternativa.

Outra tendência em alta é a de colaboração entre fintechs e bancos. Segundo Matthieu Favas, da The Economist, os bancos que tiveram a visão de transformar processos manuais em digitais se destacaram da concorrência e agora vão se apoiar cada vez mais em fintechs para desenvolver algumas tarefas e produtos e assim ampliar suas ofertas, diz.

O caso do Open Banking, que expõe informações do usuário e acesso a concorrentes em potencial, é um bom exemplo: se de um lado representa uma ameaça para os bancos tradicionais, de outro é uma oportunidade de parceria com fintechs.

E as parcerias não se limitam a incumbentes do mercado financeiro e a varejistas. Por meio de aceleradoras e/ou incubadoras como o inovabra, do Bradesco, o Cubo, do Itaú, Oxygen, da Porto Seguro e programas das bandeiras de cartões Mastercard e Visa, entre outros, as fintechs encontram empresas estabelecidas em busca de soluções para pagamentos.

No ano passado, Quanto, Asaas e a55 receberam investimentos por meio do inovabra. A Asaas é especializada em gestão de pagamentos e a a55 oferece empréstimos com base no faturamento futuro e previsível das empresas com receita recorrente. Já a Quanto é especialista em Open Banking. A promoção desse tipo de colaboração só tende a crescer, acredita Renata Petrovic, head do inovabra habitat.

Tecnologias em alta

Além da biometria, citada por Bezerra, outras tecnologias como cloud, inteligência artificial, blockchain e cybersegurança merecem atenção das fintechs, segundo Edivaldo Rocha, CEO da Claranet. “Cybersegurança se tornou necessidade primária das empresas”, afirma. Pesquisa realizada pela Fortinet apontou que só no primeiro semestre de 2020, mais de 1,6 bilhão de ataques cibernéticos foram realizados. Coincidentemente, cybersegurança é uma das dez tendências a se observar apontadas pela The Economist.

Outro segmento que ganhou os holofotes em 2020 por conta da pandemia foi a IA e suas vertentes. Por exemplo, Internet of Behavior (IoB) que ajudam a traçar os perfis de riscos de tomadores de crédito das fintechs. A tecnologia 5G vai proporcionar mais velocidade e uma nova experiência no que tange a conectividade, alavancando as transações financeiras mobile.

Fintechs que já estão posicionadas nesses segmentos devem investir para crescer mais – e também esperar pela concorrência maior.

Bônus!

Essas são as dez tendências a observar em 2021, segundo a The Economist:

  • disputas pelas vacinas anti Convid-19
  • ritmo e intensidade da recuperação das economias
  • restauro da ordem mundial entre países
  • tensões diplomáticas entre China e EUA
  • tensões comerciais entre empresas privadas da China e EUA
  • reinvenção do turismo e dos intercâmbios internacionais
  • oportunidades para agir sobre as mudanças climáticas
  • preparar-se para viver uma espécie de não-reprise do que não-aconteceu em 2020, de Olimpíadas, festas de Réveillon e Feira Comercial de Dubai a outros eventos menores
  • atenção a novos riscos potenciais que ameaçam a existência da humanidade, de vírus a ataques cibernéticos mortais.