Opinião

Vem aí o PIX Garantido e o PIX Agendado. Ainda não ouviu falar? Paulo David

Paulo David *

O PIX trouxe mais agilidade (e menos custos) às operações de transferência bancária. Mas o que muita gente ainda não sabe é que ele não vai se restringir às transações instantâneas que já temos experimentado. Em breve, será possível parcelar, agendar e até mesmo garantir uma transferência usando o Pix.

Isso acontece por que o PIX é um sistema de pagamentos moderno e que conta com muita tecnologia embarcada, o que permite diversas possibilidades de uso. Assim, as aplicações desta tecnologia dependem muito mais da criatividade das pessoas do que de limitações técnicas da ferramenta.

Resumidamente, o PIX Garantido vai permitir o parcelamento de compras enquanto o PIX Agendado vai possibilitar a programação de uma transferência.

Assim, o PIX Garantido, por exemplo, necessita da figura do intermediador da operação, que pode ser uma instituição financeira ou fintech. Esse ator deve garantir o pagamento dos valores devidos que foram agendados, arcando com os mesmos se o devedor não tiver saldo suficiente no dia programado para o débito.

A concorrência com cartão de crédito

Se você pensou rápido, notou que o PIX Garantido e o PIX Agendado vão funcionar como uma alternativa ao cartão de crédito para consumidores e empresas, que poderão parcelar valores e realizar pagamentos programados (como ocorre no vencimento da fatura).

Isso significa que depois de transformar as TEDs e boletos, o PIX Garantido e Agendado também vão afetar os atores envolvidos nas operações de cartão de crédito.

Essa é mais uma indicação de que o mercado brasileiro de finanças está buscando aumentar a competitividade entre os serviços oferecidos, o que acaba incomodando bastante os grandes players, mas só traz vantagens para empresas e consumidores.

As organizações têm mais liberdade para escolher qual a melhor forma de receber de seus clientes: dinheiro, depósito na conta, PIX Instantâneo, PIX Garantido, PIX Agendado ou outro meio.

Já os clientes, têm mais opções de fornecedores de serviços financeiros, com alternativas suficientes para compararem preço, atendimento, qualidade dos produtos oferecidos e por aí vai. Eles podem ainda avaliar a forma de pagamento que os estabelecimentos oferecem.

Qual é a importância dos novos métodos de pagamento para empresas, comércios e seus clientes?

Bem, para clientes, fica bem claro: ele tem mais comodidade e poder de escolha.

Já para as empresas, o buraco é mais embaixo. Hoje, quase metade dos pagamentos em comércio é realizado via cartão de crédito, em uma relação que envolve bandeiras, credenciadores e máquinas. O problema aqui é que poucos players detêm o controle do mercado e, consequentemente, podem determinar o preço dos serviços oferecidos à vontade. Para se ter uma ideia da força desse oligopólio, basta considerar que 65% do mercado está nas mãos de duas empresas: Cielo (controlada pelo Banco do Brasil e Bradesco) e Rede (grupo Itaú).

Nesse cenário, a maior parte dos lojistas e comerciantes pagam uma taxa entre 2% e 5% para adiantar o recebimento dos valores que teriam acesso em 30 dias. Assim, se ele tem uma margem de lucro de 10% nas vendas (que é a média no Brasil), 50% dele vai para a máquina do cartão.

Ademais, fora do eixo Rio-São Paulo, muitas das transações entre empresas e seus clientes têm base no crediário, onde o carnê e boleto são reis.

Só com essas duas ilustrações, é possível prever que o PIX Garantido ou Agendado pode ocupar um grande espaço no mercado, já que dá ao empresário alternativas de vender a prazo com melhores condições e sem ser obrigado a aceitar as condições da adquirente do cartão.

Além disso, o PIX Garantido e Agendado trazem garantias de pagamento. Ocorre que esses sistemas de pagamento usam dados e informações padronizadas e seguras, garantindo que a operação aconteceu de fato. Ou seja: não há como saber SE o cliente vai pagar. Mas se ele FEZ o agendamento, existe 100% de garantia de recebimento para o beneficiário.

Isso porque, com base nessa informação, a empresa pode adiantar o valor que tem a receber com muito mais facilidade, mesmo que a programação tenha sido feita para daqui a 60 dias.

Então, é claro que, ao invés de ser obrigado a cumprir e pagar as taxas da maquininha de crédito, o empresário vai buscar alternativas mais cômodas e baratas ao ter acesso a todo o mercado de crédito brasileiro: bancos, fundos de crédito, fintechs e a própria maquininha.

A competição entre esses players vai gerar uma gama de possibilidades para as empresas consumidoras desses serviços – em uma consequente briga por elas. É possível imaginar que serão oferecidas melhores taxas, condições, facilidade e comodidade para comerciantes, lojistas e seus clientes.

*CEO da Grafeno