Opinião

Com as inovações do setor bancário, como fica o mercado de câmbio? - Pedro Barreiro

Pedro Barreiro*

O setor financeiro faz parte da vida de todas as pessoas. Mas, grande parte delas não conhecem a fundo a complexidade do sistema bancário. Segundo pesquisa do Ibope de 2019, menos da metade dos entrevistados sabem dizer quanto gastam em tarifas bancárias. São despesas com pacote de serviços, anuidades, saques de cartões de crédito e taxas de transferências que custam ao cidadão, em média, um salário mínimo por ano, conforme levantamento do IDEC do ano passado. No mercado do câmbio, isso não é diferente.

Em estudo realizado em 2019 pela Wise com a Rock Content, mais de 94% dos entrevistados afirmaram saber o valor que pagam para enviar dinheiro internacionalmente. Porém, apenas 8,7% tinham conhecimento sobre o spread no valor do câmbio – ou seja, o  valor extra referente à diferença entre a taxa de compra e venda, e que varia entre instituições. A falta de transparência do setor e o pouco conhecimento dos consumidores sobre finanças resultaram na concentração de ativos em poucas instituições bancárias. De acordo com o Relatório de Economia Bancária (REB), divulgado pelo Banco Central em junho de 2020, as cinco maiores instituições financeiras do Brasil ainda concentram mais de 79% dos ativos totais e mais de 82% dos depósitos. Na esfera do câmbio, as dez maiores instituições concentram mais de 80% do valor total das operações. 

As fintechs surgiram para apoiar as diferentes demandas financeiras, aumentando a concorrência no setor e melhorando a experiência do cliente. Esses novos modelos de negócio movimentaram o mercado e contribuíram para a democratização do acesso a soluções que, até então, eram usadas apenas por uma parcela da população. Entre essas iniciativas, temos o Pix e o Open Banking, que oferecem benefícios como rapidez e transparência nas transações, e devem acirrar ainda mais a disputa por clientes. 

Ambas têm como objetivo disponibilizar à população, maior acessibilidade, economia e autonomia dos serviços financeiros digitais. Com as novas tecnologias, a movimentação de dinheiro entre fronteiras também será mais fácil – fortalecendo um ecossistema financeiro mais amplo e globalizado, que se mostra cada vez mais necessário.

Inovação e competitividade

A urgência e a relevância de esforços com foco na evolução deste setor pode ser observada no novo projeto de lei, aprovado em fevereiro, para instituir novas regras para o mercado de câmbio. A medida propõe um marco legal mais moderno e conciso, que deve unificar as regras e guiar as condutas. Essa iniciativa, proposta pelo Banco Central, trará inovação e competitividade, permitindo que novas modalidades de empresas, incluindo as corretoras de câmbio, possam atuar neste mercado.

No âmbito internacional, as novas tecnologias devem permitir que as transferências ganhem agilidade e que os custos diminuam – o Pix aumenta a disponibilidade de liquidação de pagamentos a qualquer dia e hora, enquanto o Open Banking apoia a maneira que as instituições gerenciam os dados dos clientes, dando mais autonomia ao consumidor. O impacto positivo do Pix já é sentido em algumas camadas da economia. Junto com o Open Banking, o efeito no setor pode ser ainda mais relevante e abrangente.

Há a possibilidade de que novos produtos sejam desenvolvidos em prol da população, inclusive no mercado do câmbio. Com a globalização, existem cada vez mais expatriados, nômades digitais e até mesmo empresas que precisam fazer ou receber pagamentos em diferentes moedas. Graças a essas inovações, o setor contará com uma nova geração de serviços financeiros digitais com ofertas melhores, mais eficazes, mais econômicas e que vão ultrapassar as fronteiras, acompanhando as necessidades dos consumidores.

*Líder de parcerias bancárias e expansão no Brasil da Wise, ex-Transferwise