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Marvin, nova fintech de ex-sócio da Monkey, vai 'reeditar o escambo'

Entra hoje oficialmente em operação a fintech Marvin, mais novo empreendimento de Bernardo Vale, ex-sócio da Monkey Exchange. Junto com Henrique Echenique, que até o final do ano passado era diretor financeiro da Cerc (uma das recém- criadas centrais de registro de recebíveis), Vale quer explorar uma oportunidade diferente na seara da antecipação de créditos.

“Pensa em um posto de gasolina, que compra da distribuidora a vista, e vende para o consumidor com cartão de crédito. O posto tem valores a receber em 30 dias, e se quiser receber o dinheiro dessas vendas antecipadamente, precisará pagar uma taxa alta para os bancos”, explica. O modelo de negócio da Marvin tira o custo da antecipação do dono do posto, faz a equivalência de fluxo de caixa e ‘vende’ os recebíveis para a distribuidora, que passa a ter risco Cielo, por exemplo – em vez do risco do dono do posto. “É como trocar recebível por combustível, é a volta do escambo”, brinca.

Com o advento da Circular 3.952 do Banco Central, Vale e seu sócio perceberam que o mercado estava focado na criação de marketplaces para oferta de diversas opções de crédito aos varejistas. “Nós vimos uma oportunidade do outro lado: oferecer para a indústria a possibilidade de vender a prazo para o varejo sem correr o risco do varejista”, diz Vale. A expectativa de contas a receber da nova fintech é de R$ 500 milhões neste ano (entre junho e dezembro).

“Com a Marvin, a indústria reduz seu risco de financiamento, que deixa de ser o da loja de pneus, da padaria, da mercearia ou do posto de gasolina da esquina para ser o risco quase zero da Cielo, Visa, Getnet, Stone, Bradesco, BB, Itaú, Santander… Com isso, pode vender mais a prazo – ou seja, vender mais. E, se precisar de liquidez, pode negociar esses recebíveis de baixo risco no mercado secundário”.

Segundo o empreendedor, pelo menos cinco grandes indústrias já compraram a tese e viraram clientes. Vale explica, ainda, que como na operação a Marvin não tem custo de captação – uma vez que age apenas como intermediária – cobra taxas bastante competitivas. “No mercado, o custo varia de CDI + 150% a CDI + 700%. Nós cobramos menos do que o CDI”.

Aposta dos sócios da Mauá

O projeto saiu do papel há três meses, com o aval – e o investimento – de Luiz Fernando Figueiredo , ex diretor do Banco Central, e de alguns de seus sócios na Mauá Investimentos. Vale não revela o tamanho do aporte, mas afirma que deu à fintech o valor de R$ 65 milhões.

A ideia dos sócios surgiu de uma leitura minuciosa da Circular 3.952 do Banco Central, que na prática ‘deu a César o que era de César’ – ou seja, o direito do vendedor ser dono absoluto dos créditos que tem a receber em cartões de crédito. Acaba com a chamada ‘trava bancária’ , para incentivar a concorrência no financiamento de recebíveis.

A mágica se dá com a criação de centrais de registro, que democratizam o acesso às negociações e retiram a exclusividade dos bancos. A regra estava prevista para entrar em vigor em fevereiro, mas foi adiada para 7 de junho – data que agora está logo ali. O BC vem estimulando a concorrência em cartões desde que extinguiu o duopólio das credenciadores Visanet e RedeCard.

“Como sempre, foi 20% inovação e 80% transpiração”, diz Echenique, que tem mais de 20 anos de experiência no mercado financeiro, com passagens pelo BBA e Itaú, além da Cerc.

Vale afirma, ainda, que o “divórcio” da Monkey foi amigável: “A Monkey é um marketplace, com foco na troca da titularidade do recebível, nas contas a pagar. Nós focamos nas contas a receber”, diz.