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“Tem que ser fiel à paixão, mas também resiliente e disciplinado”, diz fundador da Clearsale, primeira fintech brasileira

Denise Ramiro

A Clearsale, fintech de soluções antifraude para e-commerce, vendas diretas, telecomunicações e mercado financeiro, está completando 20 anos de trajetória com grandes números para comemorar – e muito aprendizado. “É preciso ser fiel à paixão, seguir a intuição mas também ser resiliente e disciplinado”, diz Pedro Chiamulera, fundador e hoje “chairman” da Clearsale.

No ano passado, a Clearsale registrou 276 milhões de pedidos analisados, R$ 106 bilhões de transações protegidas e mais de R$ 2 bilhões em fraudes evitadas. Para chegar a esses números, alimenta um Big Data desde 2006, que hoje tem uma base de cerca de 95% dos CPFs conhecidos. “Na minha visão, a Clearsale é a primeira fintech brasileira”, afirma João Bezerra Leite, investidor anjo e líder do pool de fintechs da Bossanova Investimentos.

O crescimento exponencial do negócio levou à criação, em meados de 2020, do T.group, holding que abriga quatro empresas: ClearSale, Compre & Confie, Send4 e Lomadee, promovendo a sinergia entre elas. Com a nova organização, o grupo ampliou as soluções oferecidas para o e-commerce, com ferramentas e estratégias para os principais desafios do varejo digital de ponta a ponta, desde a estratégia de negócio, aprovação de pedidos, prevenção à fraude, gestão de logística e trocas e devoluções de produtos.

A história do grupo tem muito a ver com a vocação empreendedora de Chiamulera, moldada pelo exemplo dos pais empreendedores e pela carreira de atleta olímpico. Ele participou dos jogos de Barcelona (1992) e Atlanta (1996), não ganhou medalha, mas aprendeu disciplina e determinação, que levou para os negócios com tecnologia, outro foco de interesse do empresário. A vida de atleta lhe permitiu treinar nos Estados Unidos, onde cursou Ciências da Computação pela Point Loma Nazarene College, de San Diego.

“Aprendi que é preciso se preparar para saber como fazer a jornada”,  disse Chiamulera ao canal Papo de Fintechs, comandado por Bezerra Leite. E foi exatamente o que ele fez quando decidiu voltar para o Brasil. Antes de tocar o próprio negócio, desenvolveu projetos na área de tecnologia para a rede varejista C&A e a empresa de comércio eletrônico Submarino. 

Fraudes made in China, Brasil e EUA

A questão do combate a fraudes financeiras chegou por acaso na vida do empreendedor, quando numa festa de aniversário ele começou a conversar com um dos convidados que lhe falou sobre fraudes e da vontade de criar um software. Chiamulera topou o desafio, criou o software e nunca mais abandonou o tema. 

Foi conhecer os modelos da China e dos Estados Unidos para aprender como funcionava o sistema de combate a fraudes no mundo. Ele descobriu que a China tem um law enforced forte, grandes players e muita volumetria, ou seja, é um ambiente que permite pouca fraude. Nos Estados Unidos, Chiamulera notou fraudes mais ingênuas e previsíveis, praticamente de roubo de dados.

“Já no Brasil temos muitas pessoas envolvidas na cadeia toda, o que eleva muito o risco. Em compensação há um sistema colaborativo maior no mercado, de proteção e de blindagem. Conseguimos unir o mercado inteiro por um propósito maior”, explica.

Outro ensinamento que Chiamulera traz do esporte para os negócios é o otimismo e a resiliência. Caso contrário, não teria sobrevivido ao ano de 2005, quando a empresa quase quebrou por conta da bolha especulativa mundial que se abateu sobre as empresas de internet. Ele diz que o segredo do seu negócio é a confiança.

“Somos uma empresa que não só evita a fraude, mas que quer gerar a confiança ao evitá-la; isso significa que a gente não nega automaticamente o crédito. Usamos muita inteligência, mas como a fraude é sempre um negócio muito sutil e subjetivo, não conseguimos negar apenas porque tem risco”, explica ele.

E acredita que essa filosofia de ter respeito máximo pelo consumidor final fez com que a Clearsale tivesse as melhores taxas de aprovação dos clientes, na casa dos 98%. “Equilibramos tecnologia com inteligência humana”, finaliza.