Estudos e Relatórios

Apesar do aumento da adoção de transações digitais, brasileiro ainda é inseguro com aplicativos de remessa

Denise Ramiro

Apesar do forte aumento da adoção de transações digitais, brasileiro ainda é inseguro com aplicativos de remessa. Essa é uma das conclusões da pesquisa “O Futuro das Transações Bancárias no Brasil”, divulgada hoje pela Wise (ex-Transferwise), fintech de transferência de moeda estrangeira, e o Ipsos, instituto de pesquisa e inteligência de mercado.

“Percebemos que as principais dificuldades das pessoas para transferir dinheiro internacionalmente estão relacionadas ao entendimento do processo de ponta a ponta, e isso faz sentido, já que a maioria dos players não fornece informações claras sobre tarifas, prazos e etapas aos clientes”, explica Pedro Barreiro, head de Parcerias Bancárias e expansão para o Brasil da Wise, que tem sede em Londres. “É preciso educar o cliente, estamos fazendo isso”, diz.

O estudo mapeou o mercado financeiro e identificou as tendências dos últimos três anos, comparando o volume de buscas no Google com o volume de publicações em redes sociais no período. Essa é uma parte de uma grande pesquisa que ainda não foi totalmente divulgada ao público.

“Existe uma preocupação das empresas em ser cada vez mais transparentes e uma demanda dos clientes por essa transparência. Vira um círculo virtuoso, no qual a busca dos dois lados dá um resultado melhor”, diz o professor de Finanças Alan De Genaro, da FGV.

A pesquisa revela a vontade das pessoas de entender o novo mercado financeiro – fintechs, Pix e Open Banking. De acordo com o professor da FGV, o Brasil está na vanguarda dos processos de pagamento. “O efeito fundamental do Pix é parte do processo digital, as pessoas estão começando a entender o que é banco sem agência”, diz De Genaro. Segundo ele, ajuda no processo de digitalização o fato de o Brasil ter um sistema financeiro altamente regulado, no qual as corretoras de câmbio, inclusive, são reguladas como instituição financeira.

No caso do Open Banking, a pesquisa mostra que ele gerou muita busca nos últimos três anos, mas gerou poucos posts nas redes sociais. “A busca mostra a vontade de entender sobre o assunto, o pouco número de postagens indica que não está claro como funcionará essa nova forma de fazer suas transações no mercado”, diz Luciana Obniski, líder de Curadoria da Ipsos.

Segundo Barreiro, ao contrário do Pix, que foi adotado rapidamente pela população, o processo de familiarização e confiança com o Open Banking não será tão rápido. Segundo ele, no caso do Open Banking será preciso um esforço maior do Banco Central e dos próprios players para educar o cliente sobre as suas vantagens. “Estamos vivendo a nova era do sistema financeiro. Os países que adotaram, como o Reino Unido, percebeu-se a democratização do processo”, disse Barreiro durante a live hoje cedo em que foi apresentada a pesquisa.

Moeda digital em banho-maria

Agora, se tem um assunto que os brasileiros não estão interessados por enquanto, segundo o levantamento, são as moedas digitais. “É um assunto irrelevante para o público brasileiro, ele não entende que isso pode trazer novidades. A relação do brasileiro é mais com a digitalização dos bancos, a moeda digital ele ainda não domina”, explica Luciana. “Ele está mais preocupado com a transparência e melhorias dos produtos que ele já usa. Criptomoeda está muito distante do público brasileiro”, acrescenta.

A pesquisa reforça o caminho que as fintechs estão trilhando, de levar mais transparência e democratização ao sistema bancário brasileiro. Nesse sentido, com a evolução desse processo, a wise pretende trazer ao Brasil vários outros produtos que são oferecidos aos clientes da empresa inglesa em outros países onde atua, Reino Unido, Europa e Estados Unidos. Entre eles, a conta multimoedas, o cartão de débito, o Pix como estrutura na hora do envio do dinheiro para fora do país.

Para realizar os seus planos, a Wise, que já tem o JP Morgan como parceiro no Brasil e no âmbito internacional, tem o objetivo de trabalhar com outros parceiros no mercado brasileiro. “Já temos outros parceiros alinhados, estamos conversando com eles para trazer melhores oportunidades e condições para os nossos clientes”, diz Barreiro.