Opinião

Movimentar dinheiro internacionalmente ainda é caro; reduzir os custos deveria ser compromisso do setor - Pedro Barreiro

Pedro Barreiro*

Quanto você aceita pagar para manter o seu dinheiro parado no banco? Imagino que, para uma parcela cada vez mais significativa dos consumidores brasileiros, esse valor seja R$ 0. Durante muito tempo, nos conformamos em pagar caro para guardar nosso dinheiro em uma conta bancária, mas o crescimento de bancos digitais e fintechs mudou essa realidade, e hoje já olhamos com mais desconforto para a cobrança de taxas.

De acordo com um comparativo realizado pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), entre junho de 2020 e julho de 2021, os bancos tradicionais do país reajustaram suas tarifas acima da inflação, com aumentos que ultrapassaram 200%. Por outro lado, segundo esse mesmo levantamento, os neobanks e as fintechs praticamente mantiveram as mesmas tarifas. Dados dos cinco maiores bancos do país indicam que os brasileiros pagaram R$ 29 bilhões, em 2019, em tarifas de conta corrente.

Se consideramos que não é mais razoável pagar caro para manter nossas economias em uma conta bancária, por que, então, parecemos aceitar relativamente bem a ideia de que movimentar dinheiro ao redor do mundo pode nos custar mais dinheiro?

É verdade que a natureza das remessas internacionais é mais complexa e labiríntica que uma movimentação ou manutenção bancária dentro do próprio país. O dinheiro não segue apenas em linha reta do país A para o B – ele se move por uma longa cadeia de bancos e parceiros correspondentes, com diferentes taxas pelo caminho, que nem sempre são comunicadas com clareza para o cliente. E esse caminho tem um preço.

Segundo uma análise de dados do Banco Mundial, estima-se que cerca de US$ 11,5 bilhões serão gastos em tarifas de remessas internacionais em 2021. O levantamento também conclui que US$ 5 bilhões dessas taxas poderiam ser economizados se o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 10C da ONU, que estipula que as taxas de remessa devem diminuir para menos de 3% em média até 2030 globalmente, tivesse sido alcançado no início deste ano. O custo médio global das transferências internacionais no primeiro trimestre de 2021 foi de 6,49%, bem longe dos 3% propostos pela ONU.

Mas esses gastos gigantescos poderiam ser reduzidos pelas próprias empresas do setor. Participantes importantes, incluindo os grandes bancos e as empresas de tecnologia globais, continuam a aumentar as taxas de câmbio em transações com moeda estrangeira, e ocultam suas margens de lucro. Isso acontece dentro de um cenário em que mais consumidores são atraídos para o mercado internacional, e em que enviar e receber dinheiro se tornou tão simples quanto mandar um e-mail.

Segundo relatório da ONU, o número global de migrantes internacionais atingiu 281 milhões em 2020. Com tantos expatriados retornando aos seus países de origem e com familiares em outros locais, a necessidade dos serviços de remessa digital rápidos, baratos, transparentes e confiáveis tornou-se ainda mais evidente. Porém, uma das armadilhas mais frequentes é encontrar serviços que oferecem uma transferência gratuita ou com 0% de comissão, mas com taxas de conversão altas ou escondidas, resultando em uma perda financeira significativa para o consumidor desavisado.

É necessário que empresas do setor de remessa internacional melhorem seus serviços para que possamos minimizar os altos custos anuais para os clientes e que ofereçam um serviço mais transparente, honesto e justo a todos. Cabe ao consumidor elevar o nível de exigência com relação aos serviços oferecidos no mercado e não aceitar taxas escondidas e margens de lucro abusivas, assim como já não aceitamos mais pagar caro aos grandes bancos pela manutenção de conta corrente localmente.

*Líder de parcerias bancárias e expansão da Wise no Brasil

Leia também: