Opinião

Com o uso de dados alternativos para capacitar decisões sobre risco de crédito, todos ganham - José Luis Vargas

José Luis Vargas*

Hoje, os dados alternativos revelam um novo mundo de informações – localização, presença em redes sociais, histórico de mensagens de texto, histórico de empregos, educação e buscas na internet -, e todas podem ter um papel significativo para conduzir uma mudança na tomada de decisões sobre risco de crédito, que não dependa de um relatório de crédito tradicional ou uma declaração de Imposto de Renda, beneficiando quem busca e quem concede crédito.

Os dados alternativos capacitam as financeiras a obterem melhor entendimento dos clientes atuais e em potencial. Além disso, usar tipos adequados de dados alternativos permite uma visão mais abrangente e precisa do risco de crédito. Atualmente, os credores dependem de métodos tradicionais para criar o raio-x de um potencial cliente. Embora esse possa ser um indicador sólido de risco de crédito, frequentemente há muito mais a se ver, especialmente se não houver uma pontuação de crédito tradicional disponível. Ao mesmo tempo, pessoas sem histórico financeiro no sistema bancário tradicional têm mais chance de obter crédito com base em outros comportamentos digitais não financeiros.

Para dar uma ideia, estima-se que mais de 70% dos adultos na América Latina tenham um smartphone, mas apenas 30% possuem uma relação com algum banco. Portanto, há uma grande necessidade e uma boa oportunidade de atender a essa população mal assistida, oferecendo-lhe formas alternativas de acessar fundos.

Dados alternativos se tornam uma porta de entrada para serviços financeiros e trazem essa população desbancarizada ao ecossistema de empréstimos.

A inclusão financeira tem o poder de também impactar setores como o de Pequenas e Médias Empresas, que representam cerca de 99% de todas as empresas latino-americanas e empregam aproximadamente 67% dos profissionais da região, segundo dados da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL).

Considerado um motor de recuperação econômica, especialmente após a pandemia, esse grupo frequentemente encontra mais obstáculos do que portas abertas ao crédito. PMEs podem achar o acesso a crédito um pesadelo – exigências de papelada e checagens de histórico podem ser tediosas e demoradas, o que significa que elas não têm acesso rápido a fundos, de que muitas empresas pequenas precisam desesperadamente. Os dados alternativos podem ajudar a superar essas barreiras e ajudar empreendedores a obter acesso a crédito ao criar um perfil mais preciso e completo com rotatividade mais rápida.

Esses dados criam novas oportunidades para credores ao ampliar sua base de clientes, além de oferecer a oportunidade de melhorarem seu entendimento sobre os clientes atuais ao suplementar sua visão.

Dados alternativos para prevenção a fraudes

Como o resto do mundo, a América Latina teve um aumento dramático nas fraudes desde 2020. Fontes de dados alternativos, como e-mail, titularidade de telefone, fotos e mais, podem ser usadas para verificar a identidade e, por sua vez, prevenir fraudes. Além disso, financeiras online podem melhorar suas taxas de detecção de fraude, minimizando seus prejuízos por fraudes.

Incorporar pontos de dados alternativos em um modelo de risco de crédito pode ajudar a aprimorar o processo de subscrição e permitir decisões mais fortes em que empresas não ficam limitadas na determinação do risco. A exatidão melhora e dados alternativos apoiam estratégias de precificação mais precisas.

Modelos de risco de crédito pontuam mais precisamente 90% dos candidatos que teriam sido considerados inexistentes ou com arquivos parcos usando apenas dados tradicionais. Na América Latina, onde quase 56% dos tomadores de decisões de fintechs veem a inclusão financeira como a maior oportunidade para 2022, encontrar uma maneira de prever o risco exato de crédito é um passo essencial para o sucesso.

Dados alternativos podem identificar eventos de vida que geram novas necessidades financeiras, como comprar uma casa, ter um filho, ir à faculdade e mais. Essas informações ajudam os credores a entender melhor os clientes adequados para ofertas de upsell e venda cruzada, capacitando-os a oferecer os produtos certos na hora certa, conduzindo uma experiência personalizada e valiosa do cliente.

As financeiras podem encontrar e usar dados alternativos usando canais diferentes. Através de um mercado de dados como o oferecido por empresas como a Provenir, os credores podem acelerar e melhorar a precisão de decisões de risco ao selecionar diversas fontes de dados no ecossistema de empréstimo para atender a necessidades individuais. Ao escolher um mercado, as empresas devem selecionar fornecedores de dados que possam apoiar sua estratégia de dados alternativos agora e no futuro.

Encontrar os dados alternativos certos é crucial. Combiná-los e criar um modelo de risco de crédito que maximize o ROI pode atingir prospectos, criar novas oportunidades para clientes atuais e oferecer uma experiência aprimorada de cliente meio de velocidade de chegada ao mercado e menos papelada.

Eis alguns dados alternativos possíveis que podem ajudar os credores a construir o perfil de crédito certo por pessoa ou empresa e emprestar com base em uma pontuação ajustada de risco de crédito sem sacrificar a velocidade ou o risco financeiro.

• Telecomunicações: Uso de dados, cartão SIM, texto e voz para determinar a probabilidade de inadimplência

• Open banking: Dados financeiros compartilhados entre bancos e outras instituições para obter informações financeiras e transações de pagamentos em tempo real para ampliar base de clientes

• Fluxo de caixa/Finanças: Analisar histórico de rendimento e pagamento, incluindo serviços de TV a cabo, telefonia, utilidades e locação, para prever o risco de crédito quando há dados insuficientes sobre pontuação de crédito tradicional

• Presença nas redes sociais: Posts, seguidores, contatos e fotos em diversas redes sociais que servem para verificar a identidade

• Renegociação de empréstimos: Dados de empréstimo, como datas de pagamento, prazos e locação com opção de compra, que determinam os padrões de pagamento para candidatos de mais alto risco

Empresas na América Latina já estão tendo sucesso em usar alguns dos dados alternativos mencionados. A microcredora sediada no México Baubap, por exemplo, foca em clientes sem histórico de crédito, usando tecnologia própria de subscrição para criar classificações de crédito do cliente por meio de dados alternativos – tudo que os clientes precisam é ter um título de eleitor válido e um celular Android. Isso permite que recebam um microempréstimo aprovado de 500 a 5.000 pesos em questão de minutos. Já a argentina Findo utiliza um algoritmo de crédito para analisar dados de aplicativos, renda, contatos e outros no smartphone para criar uma pontuação de crédito móvel, permitindo que a fintech avalie o risco de crédito e ofereça empréstimo instantâneo.

Estes são apenas dois exemplos das muitas empresas de empréstimo que encontraram uma forma de expandir sua visão sobre possíveis clientes de crédito, o que abriu as portas para pessoas físicas e jurídicas que encontraram obstáculos ao acesso a boas opções de crédito. Dados alternativos são uma forma de ampliar a tomada de decisões sobre riscos de crédito que podem ajudar consumidores e credores a vencer!

* José Luis Vargas-Favero é vice-presidente executivo e gerente-geral da Provenir América Latina. Ocupou vários cargos de liderança na FICO, incluindo consultor sênior de negócios para Américas e Ásia, diretor sênior para LAC e vice-presidente e diretor geral para Europa Ocidental e Israel, antes de entrar para a Provenir. Anteriormente à FICO, José passou cinco anos no setor de serviços financeiros do México e da América Latina, trabalhando para o Scotiabank e o Citibank.

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