Fintechs israelenses invadem o Brasil: Rapyd dobra aposta e Personetics chega em 2022, após PayKey e MoneyNetint

Investidas diretas de brasileiros em Israel também proliferam, como as da Fintron, Weel e Sling – a primeira em fase de captação de “money seed” e as duas últimas adquiridas por BS2 e Avante, respectivamente

Dario Palhares

As fintechs israelenses, que já começam a fazer sombra para suas concorrentes do Vale do Silício e do Reino Unido (ver box), estão descobrindo o Brasil. Formado por cerca de 90 empresas, segundo estimativas da Câmara Brasil Israel de Comércio e Indústria, a BRIL Chamber, o grupo de startups do gênero que atuam no cenário local passou a contar, neste ano, com a PayKey e a MoneyNetint e está em contagem regressiva para receber o reforço da Personetics. De quebra, a Rapyd – que se tornou em agosto a startup israelense privada de cotação mais elevada, com valor estimado na faixa de US$ 8,75 bilhões e US$ 10 bilhões – se prepara para ampliar suas operações no mercado brasileiro de meios de pagamento. A Rapyd entrou aqui em 2018 e hoje está centrada em dois clientes fixos: Hotmart e Cornershop – além de parcerias com várias fintechs.

“Nossa programação para o Brasil prevê a aquisição de uma fintech local. Tomamos a decisão há dois anos, mas a pandemia da Covid-19 retardou o andamento do projeto”, revela com exclusividade para a Fintechs Brasil Eric Rosenthal, vice-presidente da Rapyd para as Américas.

Dinheiro não será para problema para a execução do plano. Só nos oito primeiros meses deste ano, a companhia, que viabiliza transações com cerca de 900 meios de pagamento em mais de cem países, recebeu uma injeção de US$ 600 milhões em duas rodadas de captação junto a investidores. Com o caixa reforçado, ela saiu as compras: assumiu em julho, em troca de US$ 100 milhões, o controle da fintech islandesa Valitor, reforçando seu portfólio na Europa, que já contava com a também islandesa Korta, arrematada em 2020 por valor não revelado. Satisfeita com as duas incursões no cenário europeu, a Rapyd já prospecta aquisições em outros mercados globais.

“Os focos principais dessa expansão serão os Estados Unidos, a Ásia e a América Latina, na qual as prioridades são Brasil e México”, diz Rosenthal. “Nossa equipe baseada em Miami, que conta inclusive com um brasileiro, já está mapeando fintechs no Brasil. Assim que identificarmos empresas que sejam do nosso interesse, irei pessoalmente ao país para iniciar as negociações.”

Há uma tendência de fragmentação do comércio virtual, hoje dominado por gigantes como a Amazon. As redes sociais têm condições de aumentar sua fatia nesse mercado utilizando os dados que acumulam sobre seus usuários

Criteriosa, a Rapyd tratou, antes de mais nada, de entender as idiossincrasias do mercado latino-americano. Em agosto, ela ouviu um grupo de 1.687 pessoas na América Latina, dos quais 435 brasileiros, para identificar mitos, medos e hábitos relacionados aos meios digitais de pagamento. Com graus maiores de abertura para novas tecnologias, 96% dos brasileiros e mexicanos entrevistados revelaram que são adeptos de aplicativos de pagamento não pertencentes a bancos. Outro dado que chamou a atenção da startup foi a disposição de 69% da amostra de realizar compras ao vivo nas redes sociais, embora apenas 25% tenham realizado, de fato, transações do gênero. “Há uma tendência de fragmentação do comércio virtual, hoje dominado por gigantes como a Amazon. As redes sociais têm condições de aumentar sua fatia nesse mercado utilizando os dados que acumulam sobre seus usuários”, observa Rosenthal.

Com um volume de pagamentos projetado para esta temporada, pelo portal TechCrunch, superior a US$ 20 bilhões, a Rapyd surgiu há cinco anos. Seu CEO e fundador, Arik Shtilman, é um empreendedor que, ao contrário da grande maioria dos comandantes das startups israelenses, não tem curso superior. Ele tratou, contudo, de se cercar de craques em tecnologia da informação (TI) e ciências da computação, que o convenceram a reformular a estratégia do negócio.

“A empresa começou com um aplicativo simples, uma carteira digital, até que percebeu o potencial do mercado global de pagamentos, que contava, até há alguns anos, com tecnologias de compliance e controles de risco precárias”, conta Rosenthal, que se juntou ao time de Shtilman em 2017. “A virada teve início em 2018, com a rápida expansão internacional das operações.”

Em sentido horário: Rosenthal (Rapyd), Ochman (BRIL Chamber),Neumark (BS2), Zylbergeld (Rendimento), Fogelman (Fintron), Bhagat (Personetics), Ibri (Mindset Ventures) e Sheila (PayKey)

Desembarque próximo

Há dez anos na estrada, a Personetics, cujo centro de pesquisa e desenvolvimento (P&D) está instalado em Nazareth, 105 quilômetros ao norte de Tel Aviv, é a próxima da fila de desembarque de fintechs israelenses no Brasil. A startup, que anunciou em fevereiro a captação de US$ 75 milhões junto ao Warburg Pincus, nome de peso no ramo de private equity, conta com uma tecnologia própria, baseada em inteligência artificial, que permite a bancos e demais instituições financeiras agirem como consultores, oferecendo aos clientes opções definidas com base no acompanhamento online de suas operações. A ferramenta já está ao alcance de 100 milhões de correntistas de mais de 80 bancos, casos do US Bank; do italiano Intesa Sampaolo, do Metro Bank, do Reino Unido; do canadense RBC; do Santander Brasil e da matriz deste, na Espanha, que se tornou investidora da Personetics, por meio de seu braço de venture capital, em 2017.

Aproveitamos dados de transações para fornecer insights personalizados que permitem aos clientes melhorar o gerenciamento de seus ativos bancários e patrimoniais no dia a dia”,  diz Jody Bhagat, presidente da Personetics para as Américas. “É um trabalho de aconselhamento que contribui para fortalecer o relacionamento dos correntistas com as suas instituições financeiras”.

Sempre que os clientes efetuam logins nos sistemas de bancos atendidos pela Personetics, o servidor da startup recupera vários meses de dados de movimentações de recursos recentes e utiliza uma série de algoritmos para determinar sugestões customizadas mais relevantes naquele momento. O escrutínio inclui, entre outros itens, oportunidades de economia e investimento, problemas de fluxo de caixa, e gerenciamento de assinaturas de serviços virtuais, como streamings e publicações. Em menos de um segundo, os pacotes personalizados são apresentados. “Recentemente, introduzimos uma nova categoria, que ajuda os clientes a entenderem a sua pegada de carbono”, observa Bhagat.

Focada, de início, no mercado de varejo, a Personetics ampliou o seu raio de atuação, há dois anos, para gestoras de recursos e patrimônio. Um caso à parte é o DBS Bank, de Singapura, que utiliza a tecnologia da startup em ambas as frentes de atuação. “Para as gestoras de ativos, nossa plataforma fornece percepções personalizadas para clientes finais e consultores financeiros”, diz  Bhagat. “Isso é importante dado o papel crítico que os consultores financeiros desempenham na compreensão dos objetivos dos clientes e no seu aconselhamento.”

PayKey e MoneyNetint

Duas outras fintechs israelenses, a PayKey e a MoneyNetint, conquistaram nos últimos meses seus contratos iniciais no Brasil. Fundada há seis anos, a primeira – que conta com escritórios em Tel Aviv, Tóquio, Singapura, Nova York e na cidade do México – já presta serviços na área de “finanças integradas” para cerca de 30 instituições financeiras em 15 países – caso, desde a segunda quinzena de setembro, do Banco BV, o antigo Votorantim. “Nossa plataforma permite que os bancos ofereçam soluções personalizadas aos clientes, com base em interações diárias com esses públicos. O leque inclui pagamentos, empréstimos, investimentos e outras opções”, diz a CEO Sheila Kagan, que, enquanto negociações e contatos, com outros agentes do mercado brasileiro, já traça planos de abertura de um escritório em sua nova frente de atuação.

Montados sob medida, os pacotes ficam à disposição dos clientes das instituições nos teclados de seus smartphones. Um trunfo da PayKey, ainda não requisitado no cenário doméstico, é o “salário on demand”, que permite acesso de correntistas à renda proporcional aos dias trabalhados antes da data de pagamento, por meio de um aplicativo integrado aos serviços dos bancos. O carro-chefe da startup, contudo, é o “banking keyboard”, com tecnologia patenteada, que garante aos usuários acesso a uma variedade de serviços bancários móveis enquanto navegam em todos os aplicativos de redes sociais e de troca de mensagens. Não por acaso, portanto, a empresa vem costurando parcerias com instituições baseadas em gigantes na utilização de mídias digitais, casos de Índia (349,2 milhões de usuários do Facebook, 390 milhões do Whats App), Indonésia (142,5 e 68,8 milhões), México (95,6 e 62,3 milhões) e, agora o Brasil (127 e 180,4 milhões).

Os clientes dos bancos em geral, enfim, estão procurando maneiras simples de fazer transações nos mesmos aplicativos sociais que estão usando. Mas também estão cada vez mais cientes da necessidade de garantir a privacidade e a segurança de seus dados pessoais, o que abre espaço de forma crescente para os nossos serviços e soluções em finanças integradas.

“O Brasil é um mercado estratégico para a PayKey, pois conta com um ecossistema financeiro, avançado, inclusive com open banking, e um público que utiliza fortemente os smartphones”, observa Sheila. “Os clientes dos bancos em geral, enfim, estão procurando maneiras simples de fazer transações nos mesmos aplicativos sociais que estão usando. Mas também estão cada vez mais cientes da necessidade de garantir a privacidade e a segurança de seus dados pessoais, o que abre espaço de forma crescente para os nossos serviços e soluções em finanças integradas.”

Já a MoneyNetint, que permite pagamentos e transferências internacionais sem intermediação bancária, fez sua estreia no Brasil graças ao Banco Rendimento, também usuário dos serviços prestados pela Rapyd. Com tradição em câmbio e em operações no mercado externo, a instituição paulistana travou os primeiros contatos com a fintech da família Trif, fundada em Israel e estabelecida no Reino Unido há 17 anos, em 2019, durante um evento promovido pela plataforma eletrônica de transferência de moedas Ripple no exterior. “Identificamos sinergias e, ao longo de 2020, trabalhamos para implementar a parceria, já que ambas as empresas são ligadas à rede da Ripple”, diz Jacques Zylbergeld, superintendente de câmbio do Rendimento.

O objetivo traçado era facilitar e agilizar pagamentos de pequenas e médias empresas (PMEs) estrangeiras a pessoas físicas e companhias brasileiras, atividade que já fazia parte do escopo do Rendimento. Em abril, o acordo foi firmado, abrindo novas perspectivas para a instituição financeira nessa modalidade de transferências para o Brasil, que, segundo relatório divulgado em 2020 pela consultoria McKinsey, movimenta entre US$ 8 bilhões e US$ 12 bilhões ao ano.

“O Brasil apresenta uma enorme oportunidade de mercado, mas não foi explorado devido ao custo e às dificuldades de fazer pagamentos internacionais”, declarou Yishay Trif, CEO da MoneyNetint, durante o anúncio da parceria. “Tradicionalmente, isso envolve taxas altas, muitas das quais estão escondidas em taxas de câmbio altamente desfavoráveis. Isso corrói as margens de lucro e pode até mesmo fazer com que as empresas percam dinheiro nas transações.”

O acesso descomplicado aos cerca de 200 mercados nos quais a MoneyNetint opera alavancou as operações de pagamentos internacionais do Rendimento. No segmento B2B, assinala Zylbergeld, já há grandes empresas do exterior pagando pessoas jurídicas de pequeno e médio porte no Brasil. O executivo também identifica bom potencial de crescimento na demanda de PMEs estrangeiras por quitações de compromissos relacionados à prestação de serviços por cidadãos brasileiros, prática que ganhou escala com a disseminação do trabalho remoto, na esteira da pandemia. “Pretendemos agregar mais negócios na linha de pagamentos B2B na parceria com a MoneyNetint”, diz Zylbergeld, que segue atento às tecnologias desenvolvidas em Israel. “Estamos abertos a outras fintechs israelenses que tenham soluções para o Brasil.”

As ofertas no segmento estão em alta. De acordo com a BRIL Chamber, as fintechs vêm expandindo sua presença no conjunto das cerca de 300 empresas israelenses instaladas no Brasil e já detém uma fatia de 30%, com viés de alta. Ficam atrás, apenas, de companhias ligadas ao agronegócio – nos segmentos de sementes, irrigação, colheita e monitoramento de lavouras por drones –, que respondem por 60% do total. “Desde o início do ano, pelo menos meia dúzia de fintechs israelenses nos procuraram em busca de informações sobre o mercado local”, conta Renato Ochman, presidente da BRIL Chamber. “O Brasil e a América Latina entraram de vez no radar das startups israelenses em geral, que antes só tinham olhos para os Estados Unidos.”

Missão visita fintechs israelenses em março

O interesse de instituições financeiras brasileiras por tecnologias de ponta israelenses é recíproco e também crescente, como comprovam as parcerias entre o Rendimento-MoneyNetint e Banco BV-PayKey. A demanda, aliás, tende a ganhar mais gás como resultado de uma missão empresarial a Israel que a BRIL Chamber promoverá a partir de 27 de março de 2022.

“Visitas a fintechs israelenses estão previstas, já que de 40% a 50% da delegação, de cerca de 30 pessoas, será do mercado financeiro”, diz Ochman, que destaca, ainda, o apetite doméstico por investimentos na nação do Mediterrâneo. “Desde que realizamos, em 2019, uma missão para investidores, vários fundos de venture capital e family offices brasileiros realizaram aportes em Israel. Alguns, por sinal, voltaram ao país depois disso, para identificar mais oportunidades.”

Os gastos da Mindset Ventures na prospecção do ecossistema israelense de inovação não se limitam a passagens aéreas e hospedagens. A gestora, que tem seu QG em São Paulo, tratou de abrir um escritório em Tel Aviv, expediente também adotado no Vale do Silício, onde conta com uma filial em Mountain View, domicílio de gigantes digitais como Google, Alphabet e Intuit. Esses dois postos avançados cuidam da identificação de startups com potencial de garantir bons retornos para os fundos de investimento geridos pela casa, com volume aplicado de US$ 75 milhões e 90% das suas cotas em mãos de brasileiros. Aos dois primeiros, lançados em 2016 e 2017, veio se somar, neste ano, um terceiro, que alcançou uma captação de US$ 52 milhões.

“Nossas carteiras mais antigas somam cerca de 35 empresas. Ainda em processo de montagem, o novo portfólio conta com 15 companhias e deve chegar a um total de 20 ou 22”, diz o sócio-fundador e CIO Daniel Ibri. “As fintechs estão em alta: já investimos em cinco no terceiro fundo e estamos prestes a realizar aportes em mais três – duas dos Estados Unidos e uma israelense.”

Das aplicações realizadas pela Mindset Ventures, uma fatia de R$ 100 milhões, que corresponde a mais de metade da bolada, contemplou 26 startups israelenses. Nove já atuam no Brasil – casos das fintechs PayKey e Weel, e das agritechs Taramis e SeeTree – e mais uma está a caminho, a KOVRR, que dispõe de sistemas de mensuração de riscos cibernéticos muito demandados, em particular, por seguradoras e resseguradoras. “Eles estão desenvolvendo programas piloto com três empresas locais. Se esses projetos vingarem, a KOVRR vai se instalar no Brasil”, conta Ibri.

Havia muito interesse de startups apoiadas pela Microsoft em iniciar negócios e se instalar no Brasil. Atendendo a pedidos, começamos a fazer o meio de campo e logo a seguir, em meados de 2016, criamos, eu e a Camila Potenza, a Mindset

Com uma sólida trajetória em inovação e empreendedorismo, Ibri aprofundou seu relacionamento com startups israelenses a partir da primeira metade da última década, quando se tornou CEO da Acelera Partners – rede de aceleradoras de empresas nascentes de ponta formada pelo fundo de investimento em participações (FIP) Brasil Aceleradora de Startups. Em busca de apoio para as startups brasileiras investidas pelo FIP, ele passou, então, a visitar com frequência a aceleradora da Microsoft em Tel Aviv, berço do Waze, entre outros negócios inovadores de grande sucesso.

“Havia muito interesse de startups apoiadas pela Microsoft em iniciar negócios e se instalar no Brasil. Atendendo a pedidos, começamos a fazer o meio de campo e logo a seguir, em meados de 2016, criamos, eu e a Camila Potenza, a Mindset”, diz Ibri, que segue a traçar planos de expansão”. “Nosso quarto fundo deve ser lançado, muito provavelmente, no próximo ano.”

O trabalho executado pela BRIL Chamber e a Mindset Ventures vem contribuindo para estimular, inclusive, investidas diretas de brasileiros em Israel. Alguns exemplos dessa tendência são a Avante, que adquiriu a fintech israelense Sling em 2016, e o Banco BS2, o ex-Bonsucesso, que assumiu em junho o controle da Weel, fintech criada em Tel Aviv, há seis anos, pelos brasileiros Simcha Neumark e Sérgio Kalmus e o estado-unidense Russell Weiss. O trio colocou o seu bloco na rua logo após o início, no Brasil, do armazenamento de dados sobre notas fiscais eletrônicas (NF-es) na nuvem. “Decidimos nos valer dessa tecnologia fiscal governamental absolutamente inovadora para avaliar, de forma 100% automatizada, a concessão de crédito para empresas de menor porte, processo que é muito moroso no Brasil”, diz Neumark, que se tornou sócio do BS2.

Sob a orientação da aceleradora do Citibank em Tel Aviv, referência global no segmento de fintechs, o negócio prosperou rapidamente, atingindo em 2019 a marca de R$ 500 milhões em operações de crédito, dobrada já no ano seguinte. Em sua terceira temporada, a Weel recebeu um aporte de U$ 8,5 milhões do fundo Monashees Capital, ao qual se seguiram, entre 2018 e 2020, injeções totais de cerca de US$ 54 milhões pela gestora Franklin Templeton e o Banco BV. A recente fusão com o BS2 resultou numa carteira de 190 mil clientes e em um volume de R$ 4,9 bilhões em empréstimos, que, prevê Neumark, prometem dar um grande salto no próximo ano, com o lançamento das duplicatas eletrônicas, previstas pela Lei 13.775, de dezembro de 2018.

“Nossas tecnologias na análise de NF-es garantirão pontos valiosos ao BS2 em operações com duplicatas eletrônicas”, diz ele, que, em razão dessas novas perspectivas, já se preocupa em reforçar a equipe de Tel Aviv, formada por 35 desenvolvedores. “Estamos atrás de profissionais na área e não descartamos, inclusive, compras de fintechs israelenses para atingir esse objetivo.”

Calcado no binômio expertise israelense e operações no mercado brasileiro, o modelo da Weel, vem fazendo escola. Uma de suas adeptas é a Fintron, que acaba de iniciar suas atividades em Tel Aviv e São Paulo. “Estamos na fase pré-seed, contratando gente no Brasil e concluindo o processo de seleção do diretor de tecnologia em Israel”, diz o brasileiro Ariel Fogelman, fundador e CEO do negócio, que intensificou suas visitas e estadas em Israel nos últimos seis anos.

Voltada ao concorrido segmento de crédito para micro e pequenos empreendedores, a Fintron tem como diferencial o processo de seleção dos tomadores. Sua proposta prevê a concessão de empréstimos, por instituições financeiras parceiras, apenas para empresas que obtiverem boas notas e avaliações em seus cursos gratuitos, que somam seis opções: marketing digital, estratégia e inovação, vendas, gerenciamento de caixa, organização empresarial e crédito saudável. Para vender o seu peixe, a fintech cuida da montagem de uma rede de agentes autônomos com atuação em todo o Brasil, que não arcarão com prejuízos causados eventuais inadimplências.

“Queremos que os empreendedores de menor porte saibam gerir de forma eficiente o caixa, como se posicionarem em seus mercados de atuação e até mesmo avaliar se têm necessidades efetivas de crédito”, diz Fogelman. O Brasil, onde esses tomadores enfrentam grandes dificuldades para obter financiamentos, é um ótimo ponto de partida para a Fintron. Mas temos outros mercados emergentes em pauta, como África, Índia e outras nações da América Latina.”

ISRAEL ALCANÇA O PÓDIO

Israel é a bola da vez no cenário global da inovação em finanças. Divulgada no fim de junho, a segunda edição do Global Fintech Rankings Report, da Findexable, teve como grande destaque a pequena nação da costa oriental do Mediterrâneo, que ganhou nove posições em relação à lista de 2020, ficando atrás apenas dos Estados Unidos – puxado pelo Silicon Valley, na Califórnia – e do Reino Unido. “Capital” do Silicon Wadi, como é conhecido o principal polo de tecnologia israelense, Tel Aviv apresentou evolução ainda mais expressiva em igual intervalo: saltou do 18o para o quinto posto no ranking global das fintechs, superando, entre outras metrópoles, Berlim, Los Angeles, Tóquio, e Nova Déli. “Em 2020, pela terceira vez em seis anos, as fintechs israelenses geraram mais de US$ 900 milhões. Os investimentos nessas startups ultrapassaram US$ 2 bilhões, pela primeira vez, no último ano”, destacou, ainda, o relatório da Findexable.

A força das cerca de 750 startups financeiras israelenses é fruto de um ambiente extremamente favorável à inovação. Além de ser líder em investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D) entre os membros da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) – com 4,9% do PIB em 2019, 0,3 ponto percentual acima da Coreia do Sul –, Israel conta com um dos cinco maiores índices globais de cidadãos com diploma superior – 43,1%, segundo levantamento realizado em 2015 pelo The Wall Street Journal, com base em indicadores da OCDE – e com três das cem melhores universidades do mundo, segundo o Academic Ranking of World Universities (ARWU): a Hebraica de Jerusalém (90a colocada), o Weizmann Institute of Science (92a), de Rehovot, e o Israel Institute of Technology (93a), o Technion, de Haifa, considerado o equivalente local do Massachusetts Institute of Technology, dos Estados Unidos.

“O Technion é o berço de cerca de 80% dos CEOs das startups israelenses, que são muito fortes em agricultura, cyber segurança, energias renováveis, finanças e health care”, diz Renato Ochman, presidente da BRIL Chamber. “Hoje, cerca de 50% das companhias listadas na Nasdaq, que conta com mais de cem empresas israelenses, utilizam tecnologias desenvolvidas em Israel.”

Políticas de Estado de incentivo à ciência e à pesquisa são outra marca registrada de Israel, que, por sinal, teve como primeiro presidente o bioquímico russo Chaim Azriel Weizmann (1854-1952), considerado o “pai” da indústria da fermentação. Dois exemplos na área são o Ministério da Ciência e Tecnologia, criado há 39 anos, e a Autoridade da Inovação, a sucessora do antigo Gabinete do Cientista-Chefe, instituído em 1965. “O cientista-chefe cumpre mandato, a exemplo da maioria dos presidentes de bancos centrais, e determina as diretrizes dos investimentos públicos em ciência e inovação”, explica Ochman. “As linhas de crédito oficiais na área, aliás, chegam a cobrir até 85% dos investimentos necessários para o estabelecimento de startups.”

Com 6,9 mil jovens empresas de ponta, uma para cada 1.356 habitantes, Israel se tornou a “nação startup”, título de best-seller lançado em 2009 por Dan Senor e Saul Singer. Estímulos ao empreendedorismo se estendem por todo o país – das universidades, que incentivam professores e pesquisadores a desenvolverem tecnologias com bom potencial de demanda, acenando com participações nas receitas de licenciamento das mesmas, às forças armadas. Durante o serviço militar obrigatório – com três anos de duração para os homens e dois para as mulheres –, os israelenses têm contato, em especial, com sistemas e métodos avançados de cyber segurança.

“Um dos destaques é a Unidade 8.200 do exército, que vende soluções do gênero para o mercado e se tornou um criadouro de empreendedores”, diz Daniel Ibri, CIO da Mindset Ventures. “É o caso  de Sivan Rauscher, CEO e cofundadora da SAM Seamless Network, uma de nossas empresas investidas, que é especializada na prevenção de ataques cibernéticos a residências.”