Opinião

Gêmeos digitais, o futuro do setor financeiro - Jorge López/TIBCO

Jorge López*

Nunca tivemos acesso a tantas informações dos consumidores. A era dos dados que vivemos proporciona que organizações tenham a possibilidade de analisar, coletar e utilizar esses dados para conhecer melhor seus clientes. Porém, os gêmeos digitais têm elevado esse jogo a um outro patamar.

Basicamente, um gêmeo digital é uma recriação digital de objetos, de contextos da vida real ou até mesmo do corpo humano. Empresas do setor de energia coletam grandes quantidades de dados do trabalho em campo para construir modelos digitais complexos que podem ser implantados, por exemplo, no planejamento de uma operação de perfuração submarina, Cingapura até construiu um modelo virtual detalhado de si mesma para ajudar no planejamento urbano e recuperação de desastres. As diversas formas de utilização vão muito além, desde reforçar processos de decisão em tempo real em corridas na Fórmula 1, como é o caso da equipe heptacampeã Mercedes-AMG Petronas Formula One Team, até a criação de gêmeos digitais precisos do coração humano para diagnósticos clínicos e treinamentos.

Essa tecnologia, vale lembrar, já existe há cerca de duas décadas. Entretanto, por meio de aprimoramentos em conectividade, inteligência artificial e machine learning, bem como a capacidade de lidar e analisar um número maior e mais complexo de dados, os gêmeos digitais passaram a ter um papel protagonista em tomadas de decisão.

Bancos x fintechs

Um setor com muita aderência para essa tecnologia é o bancário. Em um momento em que os bancos tradicionais sofrem uma enorme pressão de fintechs que disputam intensamente o mercado, a utilização de ferramentas preditivas pode mudar a forma como essas instituições competem.

Vivemos em um momento histórico em que nunca lidamos com tantas incertezas, desde as mudanças climáticas até a pandemia do COVID-19, tornando a situação de muitas famílias incerta e influenciando diretamente em sua capacidade de gerar renda. No caso das mudanças climáticas, por exemplo, utilizando grandes quantidades de dados sobre o ambiente e seus habitantes, aliado a informações sobre o setor público e dados históricos, previsões sobre desastres naturais e aumento do nível do mar passam a ser possíveis e seu efeito na renda e na vida dos consumidores também.

Mas não são apenas as linhas de crédito que podem ser influenciadas por gêmeos digitais. Bancos podem ter benefícios dessa tecnologia na área de mercado de capitais, utilizando os dados disponíveis para prever o impacto que o lançamento de um determinado produto pode ter nos clientes e suas avaliações sobre eles. Também é possível simular o impacto que diferentes situações de mercado, utilizando dados internos. Tudo isso sendo testado em tempo real, o que torna ainda mais interessante o processo dos gêmeos digitais, diminuindo o risco da instituição de forma considerável e facilitando a priorização de um projeto sobre o outro.

Já foi demonstrado como a utilização de gêmeos digitais é uma realidade em muitos setores, e no setor financeiro não deve ser diferente. Na esteira do open banking, que cada vez mais exigirá que os bancos busquem novas formas de engajar e encantar seus clientes, os gêmeos digitais são tidos como o futuro do sistema bancário. Com cada vez mais recursos disponíveis e sendo atualizados, o potencial é imenso, ainda mais quando aliado à quantidade sempre crescente de dados que são armazenados. A criação de sistemas que podem ser interoperáveis e o aumento na qualidade de IA também fazem parte de um futuro em que os gêmeos digitais serão peça central no desenvolvimento de instituições.

*Vice-Presidente de Vendas da TIBCO para a América Latina