"Hoje, nosso desafio é dizer não", diz VP do Mercado Pago, a fintech do Mercado Livre; grupo adota 'growthfit' como mantra para 2022

“Hoje, nosso desafio é dizer não”. A afirmação é do vice-presidente do Mercado Pago no Brasil, Tulio Oliveira, e indica que sobram oportunidades para continuar crescendo e entrando em novos segmentos do mercado brasileiro. Mais difícil é entregar resultados positivos para os acionistas.

“Depois de anos satisfeitos apenas com as altas taxas de crescimento, os investidores em startups já começam a abandonar as que só crescem mas nunca apresentam rentabilidade”, diz Oliveira.

Não à toa, crescimento com rentabilidade (growth + profit, em inglês) é o novo mantra do Mercado Livre, (MeLi), a holding do Mercado Pago. Ou melhor: growthfit. Cunhado por Stelleo Tolda, presidente e um dos co-fundadores do grupo argentino, a palavra agora é parte do vocabulário dos gestores da empresa – principalmente nas reuniões. Os colaboradores já entenderam o recado: crescer sim, mas de forma seletiva.

O prejuízo do MeLi em 2021 foi de US$ 83,3 milhões.

Ecossistema completo

Em 24/3, Oliveira anunciou, em evento para jornalistas realizado na “Melicidade”, sede do MeLi no Brasil que fica em Osasco (SP), algumas novidades que devem ser implantadas ao longo deste ano pela fintech.

O executivo entregou poucos detalhes, mas deixou nítida a intenção de continuar tirando vantagem da base de clientes do MeLi, enquanto reforça sua marca como negócio independente.

Hoje, o Mercado Pago tem mais de 34 milhões de clientes – aos quais oferece meia dúzia de soluções de crédito e pagamento, como cartões, CDC, PIX e QR code. Também tem mais de 3 milhões de “vendedores” – a maioria microempresas – que usam o Mercado Pago para receber suas vendas. Além deles, outros 9 milhões de vendedores do MeLi também são usuários da fintech, que oferece três opções de maquininhas para captura de transações. “Por meio do Mercado Envios, a maquininha chega nas mãos dos vendedores em 24 horas. Isso é inclusão financeira”, diz Oliveira.

Uma das metas do Mercado Pago para 2022 é se consolidar como plataforma completa de investimentos. “Nossa natureza é de construtor, de consolidador; mas se aparecer alguma oportunidade de aquisição, estamos abertos”, diz Oliveira.

Além das opções de renda fixa que oferece por meio da parceria com a Órama, o Mercado Pago tem uma plataforma de negociação de criptoativos desde dezembro de 2021. Segundo Oliveira, em três meses a nova unidade de negócios conquistou mais de um milhão de investidores.

A partir de abril, o Mercado Pago começará a oferecer também Certificados de Depósitos Bancários (CDB), que aceitarão aplicações a partir de R$ 1. “Teremos alternativas com várias taxas, prazos e condições de acordo com o perfil do aplicador”, informa o executivo. “O CDB é flexível, podemos usá-lo para fazer promoções, por exemplo”.

E acrescenta: “Serão opções simples para quem está começando a investir. Muitos dos nossos clientes não têm experiência e precisam de orientação, o que entregamos por meio do nosso blog Conexão Mercado Pago.

Buy now, pay later

Do lado do crédito, cuja carteira já soma mais de R$ 4,5 bilhões, financiados majoritariamente por FIDCS lastreados por investidores de peso como Goldman Sachs e Citi, o Mercado Pago oferece cartões de crédito, Buy Now Pay Later (BNPL) e CDC online.

Apesar do “cenário desafiador” de 2022, com inflação e juros em alta, eleições e Copa do Mundo, Oliveira prevê um ano de crescimento da carteira. “A inadimplência está controlada, temos um modelo que vem sendo construído há seis anos no Brasil”, diz.

Outra frente na qual o Mercado Pago está investindo é no PIX. Em 2021, a finrech registrou crescimento de mais de 700% em transações com o meio de pagamento.

Diante da grande adesão dos brasileiros ao serviço, a empresa também está investindo em atrelar inovações à modalidade, como fez recentemente ao lançar o parcelamento com QR Pix por meio de crédito pessoal, antecipando aos usuários a experiência de fases futuras dessa agenda.

Além disso, a fintech foi a primeira instituição a oferecer depósitos com o iniciador de pagamento, melhorando a experiência do usuário e abrindo portas para ampliar o uso do Pix no e-commerce.  A compra da rede Kangu, que tem 2,8 lojas no país, vai ajudar na estratégia.

Vans azuis

Além dos novos produtos, a intenção de colocar a marca Mercado Pago no mesmo lugar que a do Mercado Livre conquistou no coração dos consumidores brasileiros na pandemia é evidente: a partir de meados deste ano, as já populares vans amarelas do MeLi vão passar a dividir espaço com as novas vans azuis do Mercado Pago nas entregas das compras feitas pelo e-commerce.

O MeLi anunciou em 22/3 que investirá R$ 17 bilhões no Brasil em 2022, valor 70% maior do que em 2021. Centros de distribuição, investimentos em marketing e tecnologia, nessa ordem, são principais destinos desses investimentos.

A companhia anunciou recentemente a inauguração de quatro novos centros de distribuição no estado de São Paulo, aumentando para mais de 2 milhões de pacotes a sua capacidade diária de transação logística. “Parte significativa desse investimento também será destinada ao avanço da oferta do Mercado Pago, com novos serviços, produtos e experiências integrados à conta digital, reforçando o seu objetivo de concentrar a gestão financeira dos usuários em um mesmo lugar”, disse o grupo, em nota.