Reportagens Exclusivas

Venture builder em alta: depois de bancos e varejistas, Algar adere à tendência, em parceria com a mineira FCJ

A venture builder FCJ, de Belo Horizonte, acaba de licenciar sua metodologia para a Algar Telecom e entrar de sócia, com 9%, da nova Algar Corporate Venture Builder. A FCJ tem 37 parceiros e prevê chegar a 50 até o final deste ano, e a 1,5 mil startups em cinco anos. Hoje são 105, das quais duas fintechs: a XLZ, de recebíveis, e o UdiBank. “Somos uma EXO, empresa de crescimento exponencial”, diz o CEO e fundador, Paulo Justino.

Em nota, a Algar disse que o objetivo da iniciativa é consolidar seu posicionamento no ecossistema de startups, fortalecer a evolução digital da empresa, acelerar seu go to market, potencializar a geração de das startups e sua posterior integração na companhia. Em contrapartida, terá direito sobre uma participação minoritária (5% a 20%) das startups.

Segundo Justino, o modelo de negócio que a FCJ licencia para essas empresas não é o de “fabricar” startups do zero, mas encontrar no mercado as que existem e que possam colaborar para resolver os problemas do parceiro. “É inovação aberta”, afirma.

A FCJ tanto pode apenas licenciar o modelo como ceder a metodologia e entrar de sócio em qualquer programa de aceleração que queira transformar sua aceleradora em venture builder. O licenciamento pode ser feito em quatro modalidades: regional, vertical, corporate, ou government. No começo do mês, a FCJ lançou com o Grupo Mirante, do Maranhão, a Aduela Ventures, uma corporate venture builder de mídia e entretenimento.

A FCJ começou em 2013, quando nem se falava em venture builder no Brasil. Depois de cinco anos, perceberam que poderiam licenciar o modelo para outras empresas. “Chamei amigos para se associarem, cada um entrou com R$ 12 mil, e hoje têm um patrimônio de alguns milhões”, diz o CEO. A FCJ cobra comissões que giram em torno de R$ 750 mil por licenciamento.

O executivo, que fez carreira na área de TI, explica que a FCJ faz investimento econômico, não financeiro: “Não colocamos um cheque na mão do empreendedor; a gente gasta em torno de R$ 300 mil a 500 mil por startup, mas a gente faz com ela; a diferença de uma venture builder e um programa de aceleração é que a gente entra com startup por um período de 3, 4, 5 anos… não é um período de 6 meses”, revela. Mas no ecossistema tem um grupo de investidores anjo e uma plataforma de crowdfunding para trazer o primeiro cheque para as startups.

Há cerca de um ano, a FCJ recebeu um aporte de R$ 6,5 milhões para alavancar sua expansão internacional. Hoje, a multinacional brasileira está na Europa, México e Estados Unidos.

Em janeiro, outra venture builder brasileira –  Orange Ventures, do Grupo FCamara – decidiu dobrar suas apostas, inclusive ingressando em fintechs. “Este é o meu desafio para 2022”, disse na época João Gabriel Chebante, especialista em corporate venture da FCamara, uma consultoria de soluções tecnológicas e transformação digital fundada em 2008.

Assim como a FCJ, a Orange não coloca diretamente dinheiro nas startups: os investimentos giram em torno de R$ 500 mil para desenvolver as startups contratando equipes, compartilhando serviços de marketing, aportando tecnologia, e abrindo portas para novos relacionamentos entre elas e nossos clientes. Eventualmente, investidores anjos podem se juntar à Orange Ventures e contribuir com mais recursos.

Ganhando tração

Relatório divulgado pela CB Insights sobre o fluxo global dessas operações no ano passado mostra que foram movimentados US$ 169 bilhões, um crescimento de 124% em relação a 2020.

“É uma tendência que ganhou tração nos Estados Unidos há uma década e que agora acelera entre empresas brasileiras e latino-americanas”, diz Carlos Lobo, sócio do Hughes Hubbard & Reed LLP. “São grandes empresas nacionais e multinacionais, de diversos segmentos, como varejo, tecnologia, educação, indústria e bebidas, por exemplo. Os bancos já possuem suas corporate ventures e agora temos as grandes empresas como as candidatas naturais desse mercado”, explica.

Os bancos já haviam acordado para o Corporate Venture Capital (CVC) – estão aí os casos da Kinea, do Itaú, Inovabra Ventures, do Bradesco, Banco do Brasil e da TecBan, que em janeiro fechou com a própria FCJ parceria para ampliar seu programa de inovação aberta. Também em janeiro, o Banco do Brasil estruturou dois novos fundos de investimento proprietário, com as gestoras MSW Capital e Vox Capital.

Mais recentemente, veio o varejo. No último dia 30/3, a Americanas anunciou o lançamento da plataforma de Corporate Venture para “promover um relacionamento contínuo com pequenos negócios inovadores que possam impulsionar o crescimento orgânico das diferentes frentes da companhia (física, digital, logística e a fintech, a Ame Digital) por meio de inovação aberta”. A Americanas prevê o investimento em até 20 startups neste primeiro ano.

Uma semana antes, a Renner havia divulgado iniciativa semelhante: batizado de RX Ventures, o CVC da loja de departamentos visa investir no crescimento de startups focadas em soluções inovadoras para todo o ecossistema de moda e lifestyle. O fundo tem capital de R$ 155 milhões para investimentos e participações minoritárias em startups.

A Via, novo nome adotado pela Via Varejo, anunciou há um ano a criação de um fundo de R$ 200 milhões de CVC com foco no investimento em startups ao longo dos próximos cinco anos.