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Fabricante de robôs de investimento, a RoboBanker tem 20 prospects e nove clientes, entre eles Daycoval e LadyBank 

Dario Palhares

Assim como ocorreu nas linhas industriais, a partir dos anos 60 os robôs começaram a tomar o lugar da mão de obra humana no universo dos investimentos. Primos na vida real da dupla C-3PO e R2-D2, do longa-metragem “Guerra nas Estrelas”, esses autômatos, conhecidos como robot advisors, são o carro-chefe da terceira onda de investimentos, surgida nos Estados Unidos em meados da última década. 

Ancorada em métodos quantitativos, a tecnologia permite aplicações e realocações automáticas de recursos, em frações de segundo, seguindo metas estabelecidas.

“Se o investidor quer, por hipótese, garantir uma renda mensal de R$ 10 mil daqui a 20 anos, quando se aposentar, o robot advisor define um portfólio sob medida. Feito isso, ele sai às compras e vai ajustando a carteira”, explica o matemático alemão Christian Zimmer, sócio-fundador da RoboBanker, “fábrica” de robôs instalada na marginal do rio Pinheiros, em São Paulo.

A expertise de Zimmer na seara soma mais de três décadas. Em 1991, quando era aluno da Universidade de Berlim, ele desenvolveu um sistema para aplicações em ações e a seguir, já contratado por um banco de investimento da capital alemã, criou uma carteira automatizada de investimentos em opções. O matemático chegou ao Brasil em 2000, para fazer o doutorado na Universidade de São Paulo (USP), e logo foi recrutado pelo grupo Itaú, onde atuou por 17 anos.

Christian Zimmer, RoboBanker

“Quando deixei o banco, resolvi apostar em metodologias quantitativas voltadas para investidores pessoas físicas”, conta Zimmer. Em 2019, surgia a RoboBanker, hoje com três sócios.

Customização

A empresa oferece sistemas white label que permitem customizações a pedido da clientela, formada por bancos, assets e fintechs. A ferramenta é composta por módulos que, entre outras funções, definem as composições de portfólios sob medida, enviam e acompanham o cumprimento de ordens de compra e venda, e abrem espaço para aplicações temáticas, como ativos alinhados aos princípios ESG – acrônimo, em inglês, de ambiental, social e governança. 

“Nossa metodologia proprietária também permite configurações de diferentes cenários futuros para a economia, levando em conta, por exemplo, projeções sobre a taxa Selic”, diz Zimmer.

Se até há alguns anos os robot advisors chamavam a atenção por conta apenas de sua inusitada proposta, hoje eles já exibem musculatura de respeito, que segue em desenvolvimento. Estudo elaborado pela consultoria Deloitte, no fim da última década, projetava um crescimento do montante sob os cuidados desses gestores hight tech para até US$ 7 trilhões em 2025, o equivalente a 39% do volume global administrado por assets à época. 

O Brasil não é exceção à tendência, como comprovam os nove clientes da RoboBankers, casos do Banco Daycoval e da fintech LadyBank, que deverão ganhar em breve as companhias de outros agentes de mercado.

“Estamos em negociações avançadas com cerca de 20 empresas, entre bancos, distribuidoras e cooperativas de grande porte”, diz Zimmer. “O interesse é fruto dos benefícios gerados pela robótica, que permite a gestão personalizada de carteiras 24 horas por dia por um custo marginal.”

Razões afetivas

Na clientela da casa, o LadyBank recebe tratamento diferenciado por razões afetivas. Explica-se: o negócio foi criado e é conduzido pela psicóloga Vanise Zimmer, que é casada com Christian. Voltada ao público feminino, a fintech iniciou suas operações em abril do ano passado, lançando um pacote de serviços composto por uma conta digital isenta de tarifas – que oferece serviços gratuitos, como transferências por PIX e TED –, cartão de crédito internacional e uma ferramenta de planejamento financeiro. 

O cardápio foi reforçado, há poucas semanas, com o lançamento da opção “investimentos personalizados”, a partir de R$ 100, que tem em sua retaguarda a tecnologia criada pela RoboBanker. “Desenvolvemos um robô que leva em conta as preferências e predisposições femininas”, diz Vanise. “É o caso, por exemplo, da menor tolerância ao risco.”

Com sólida formação acadêmica, assim como o marido, a empresária teve a ideia de criar um banco com viés de gênero durante a elaboração de sua tese de doutorado, apresentada na Escola Politécnica (Poli) da USP em 2008. Intitulada “Decisões humanas para a gestão de portfólios de investimento de risco em contexto de incerteza: por dentro do trabalho do investidor”, a obra constatou a presença quase que absoluta de homens no universo dos investimentos.

“As mulheres não estavam no mercado financeiro. Não trabalhavam nas áreas operacionais de instituições do setor e também não investiam”, diz Vanise. “Eu e o Christian começamos, então, a pensar na criação de uma porta de acesso para elas. O LadyBank é o resultado desse projeto.”

Há pouco mais de um ano na praça, a fintech, que soma 20 funcionários, começa a aquecer suas turbinas. Com a oferta de investimentos robotizados, a implementação de ações de marketing e o lançamento, em breve, de novas opções de serviços – como câmbio, seguros e empréstimos interpessoais –, a meta traçada é expandir a carteira de mil para cerca 20 mil clientes até dezembro. 

“Até o fim de 2024, pretendemos contar com pelo menos cem mil clientes”, diz Vanise, que revela um dado curioso sobre a freguesia da casa. “Cerca de metade da nossa clientela é formada por homens. Sem problemas, todos os públicos são muito bem-vindos ao LadyBank.”

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