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iCred, de Sergipe, já antecipou R$ 300 milhões de FGTS e agora vai entrar em consignado do INSS; “sonho de criança”, diz CEO

Quando Túlio Matos era criança e morava com a família no interior da Bahia, 25 anos atrás, ele sonhava ser banqueiro. Agora, com a iCred, que comanda junto com seus três irmãos, Matos está mais perto do que nunca de realizar esse sonho. “Mal acredito”, diz o engenheiro de 34 anos, que fundou sua fintech no ano passado em Aracaju, em Sergipe.

Especializada em antecipação de saque de FGTS, a iCred já emprestou R$ 300 milhões. No ano que vem, vai entrar em consignado de INSS. “Temos 1% do mercado de FGTS, se atingirmos 2% do mercado de crédito para aposentados até junho de 2023, estamos felizes”, diz. O público potencial do primeiro é de aproximadamente 45 milhões de brasileiros com carteira assinada e o de aposentados, mais 35 milhões.

Daí para um banco completo, Matos acredita que não será um caminho tão longo quanto o que o levou até aqui. “Temos tudo, só falta a licença bancária”, diz.

Matos justifica a escolha do nicho: “As taxas cobradas nas linhas de saque do FGTS são boas, os clientes são digitalizados e bancos privados já acordaram para o negócio”.

“Em janeiro colocamos as lojas físicas na rua, em fevereiro, viramos 100% digital e em três meses fizemos R$ 40 milhões de contratos. Fomos o primeiro player que antecipou o saque FGTS no Brasil pagando com PIX. Reduzimos as exigências de informações de 50 para oito, baseados em algoritmos parrudos desenvolvidos internamente, que cruzam tudo. Já tivemos 2,2 milhões de simulações e 832 mil pessoas fizeram o opt in da LGPD no nosso site”, acrescentou, revelando que até agora só sofreram uma única fraude “e foi da safra do primeiro mês”.

Túlio Matos

Para custear as operações, a iCred captou R$ 100 milhões na primeira série do seu Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC). “Essa primeira rodada nos deixou animados porque conseguimos uma boa captação com casas de primeira linha. Estamos completando outro fundo warehouse, logo teremos uma segunda série e uma debênture que irá a mercado. Isso amplia nossas opções de funding e permite lançarmos novos produtos”, afirma Matos.

“Salestech”

A iCred é uma evolução natural da primeira empresa da família, a Vida Nova, fundada por seu pai em 2005 em Nordestina (BA).

Engenheiro civil, o pai ficou desempregado e depois de algumas experiências frustradas, recebeu convite para ser agente de crédito do banco BMG, e virou correspondente autorizado. “Meu pai já havia trabalhado nas prefeituras de cidades vizinhas, era bem relacionado, e enxergou nesse convite a oportunidade de atender trabalhadores rurais que nenhum banco atendia. Os empréstimos, de no máximo R$ 1,5 mil, os ajudavam a comprar a primeira moto, o primeiro rebanho de caprino, a primeira geladeira… fomos um impulsionador da virada de vida dessas pessoas”, acredita.

Dois anos depois, enquanto fazia faculdade, levou a empresa da família para Juazeiro, onde a Vida Nova virou “loja âncora” do primeiro shopping da cidade. E entraram com tudo: conseguiram do parceiro BMG uma tabela especial que permitia a liberação de até R$ 5 mil para aposentados, anunciaram na TV e viram a demanda explodir, com filas na porta e distribuição de senhas.

Mas, como todo negócio, passaram por dificuldades e somente em 2017 conseguiram se recuperar, quando decidiram desenvolver um sistema totalmente customizado em cima de uma plataforma da Totvs.

“Neste momento percebemos que a empresa, agora chamada Grupo Vida Nova (GVN), era mais do que um correspondente bancário no modelo de negócio de promotora de crédito, mas uma “sales tech” com três mil empresas parceiras no modelo de subestabelecimento, seguindo todas as regras do Banco Central, com todos os processos de marketing e vendas e gestão 100% digital na plataforma, pagando comissão três vezes por dia”, diz Tulio.

Hoje o GVN tem 15 instituições parceiras e se transformou em um hub digital: “Só percebemos isso quando chegou a pandemia – éramos a única promotora de crédito conectada a 15 bancos para atender todo mundo que estava em home office”, afirma. “Saímos de 300 para 3000 correspondentes bancários, construímos autoridade digital. No ano passado a GVN abriu 500 mil contas digitais em 70 dias para um banco de varejo através do marketing de afiliação com 20 mil vendedores”, diz.