Mulheres

Conheça as executivas à frente das fintechs Kardbank, Bankme, Bullla e Cashin

Carla Pontes/KardBank – divulgação
Talita Zampieri/Bullla – arquivo pessoal
Fabiana Trigo/BankMe
Nani Gordon e Luciana Ramos/Cashin: crédito Ana Rovati

A experiência em ter trabalhado em grandes bancos fez com que Carla Pontes, CEO da Kardbank, fintech de crédito consignado, despertasse o desejo de investir em uma startup de finanças, ecossistema com o qual sempre teve contato. 

“O ato de inovar e modernizar é o que mais me fascina”, justifica a empresária sobre seu trabalho. Carla é formada em administração pela FGV e possui MBA em Harvard. 

Ela também trabalha como diretora executiva à frente do Grupo Marquise, que atua há 45 anos na área de infraestrutura, ambiental, imobiliário e shopping centers. Por um bom período, comandou o Grupo trabalhando em um ambiente predominantemente masculino, sendo a única mulher entre os seis cargos do  alto escalão.   

A executiva defende que a inclusão maior de mulheres nas organizações é benéfica, tanto para a instituição quanto para a sociedade, por trazer a diversidade necessária para o sucesso do empreendimento e contribuir para evolução da equidade entre gêneros na sociedade como um todo. 

“Visões diferentes ampliam a criatividade, melhoram os níveis de discussão nas organizações e, como produto, aumentam as chances das empresas em inovar e conquistar públicos diversos”, opina. 

“Se pensarmos que as mulheres são parte muito importante do mercado consumidor e formador de opinião, parece até um pouco óbvia a importância  desse equilíbrio nas organizações”, observa. 

Para a empresária, a mudança desse cenário está em curso e a busca das mulheres pelo conhecimento e qualificação profissional deve contribuir para a redução desse desequilíbrio. 

“Acredito que a tendência é esse processo se acelerar. O mercado está percebendo o valor da mulher competente e que batalha por seus objetivos. Acreditar no seu sonho, entender bem o que você gosta de fazer e investir na sua formação são essenciais”, frisa. 

A CEO reforça que a conciliação entre ser mãe e carreira profissional é difícil, mas possível. 

“Independente do caminho a ser trilhado, é importante que a mulher tenha o direito de escolher. Todas as escolhas são válidas: ser mãe ou não, ter uma profissão fora de casa ou não. Não precisa desistir da carreira porque sente o desejo de ser mãe, e é importante validar a mãe que opta por desistir da carreira para cuidar dos filhos. Tive que construir esse equilíbrio ao longo do tempo. Mesmo recebendo apoio em casa, com dois filhos, em determinado momento tive que abrir mão de uma coisa ou de outra. Essa questão nunca vai ser igual para todas. O importante é, como empresa e sociedade,  garantir a liberdade de escolha das mulheres”, conclui Pontes. 

Fundada em 2021, a Kardbank nasceu através da expertise da CEO Carla Pontes e do COO André Azin. Pontes é conselheira e acionista do Grupo Marquise e Azin tem mais de 25 anos de experiência no setor financeiro. Ambos viram a necessidade de modernizar a concessão de crédito consignado público e privado no Brasil. 

Através de uma plataforma fácil, moderna e segura, a fintech prioriza a autonomia e liberdade para os tomadores. Com o crédito aprovado, o cliente público ou privado consegue antecipar o salário, solicitar empréstimos, realizar saques em bancos 24h, transferir dinheiro para sua conta, pagar boletos e fazer compras com seu cartão. 

Coragem de se colocar

Com um pai profissional do mercado financeiro, Fabiana Trigo se apaixonou pela área ainda pequena. Por isso, confessa que as matérias preferidas na escola eram as de exatas e que buscou atuar com números durante toda a carreira. “Sempre gostei muito de números e trabalhei com isso em todas as empresas que passei. Em 1995, quando fiz 15 anos, pedi um computador de presente ao invés de uma festa de debutante e comecei a mexer naquela máquina ainda pouco conhecida. Isso me deu vantagem em um teste de digitação para uma vaga de recepcionista em que os requisitos eram idade mínima de 18 anos e dois anos de experiência comprovada na carteira, o que eu obviamente não tinha. O diretor na época ficou tão perplexo que acabei sendo contratada e trabalhei lá até os meus 19 anos, com 4 promoções de cargo, todas envolvendo números”, narra.

Após se casar e ser mãe aos 20 anos, Fabiana fez uma pequena pausa e voltou com força total três anos depois, direto para o setor de fomento financeiro. Hoje, depois de 19 anos de experiência na área, ocupa o cargo de Key Accont na fintech Bankme, que cria e opera Mini Bancos para empresas e profissionais autônomos que desejam oferecer soluções simplificadas de crédito.  Ela conta que foi a primeira colaboradora do negócio, ajudando a tirar a ideia do papel e levar à execução. 

“Ao lado de founders homens, pude agregar e muito ao que somos hoje. Fiz parte desde a construção da nossa cultura até o nosso grito de guerra, que eu quem criei. Isso prova o quanto mulheres não só podem como devem estar envolvidas no mercado profissional. A Bankme me trouxe um encantamento por ser uma empresa jovem, atual e com visão no futuro. Esses aspectos me motivam a buscar mais conhecimento a cada dia para me manter sempre em posições onde eu possa ter voz”, comenta Fabiana.

“Acredito que a coragem de me colocar fez com que eu chegasse até aqui. Desde muito nova, sempre enfrentei homens e mulheres profissionais, por vezes muito mais velhos que eu, para mostrar que eu podia somar tanto quanto qualquer um deles. Por outro lado, viver em um ambiente dominado por homens, como o do mercado financeiro, não é fácil, mas também não é impossível. Acho que existem alguns pontos bem importantes para que esse ambiente se torne um lugar agradável para nós, mulheres. É fundamental ter confiança, segurança e firmeza no que se faz, valorizando o próprio trabalho e nunca se sentindo diminuída”, aconselha a Key Account da Bankme.

Legado feminino

Talita Zampieri, CMO da fintech BULLLA, começou a carreira muito cedo na área de marketing. Passou pela indústria farmacêutica até chegar nas principais agências de publicidade nacionais e internacionais, atendendo gigantes marcas em valor e volume de investimento. Foi, inclusive, co-fundadora da primeira agência de varejo do país, e ganhou diversos prêmios, tornando-se diretora ainda jovem.

Sua paixão pela estratégia e a vontade de deixar um legado importante para a sociedade fizeram com que o universo de crédito saltasse seus olhos. “Há muito trabalho para fazer até que os brasileiros acreditem que crédito é bom e não o inimigo, que crédito é para todos e não somente a aqueles que podem quitar suas dívidas com facilidade, que o score positivo deve ser a prática e não a exceção”, pontua. 

Mas esse não é o único desafio para a diretora de marketing. Trabalhar em um ambiente tradicionalmente masculino é lidar com situações machistas que, segundo ela, por vezes velada, por vezes escancarada ou até por vezes sem intenção, mas sempre presente. Filha de mãe solteira e por nunca ter conhecido seu pai biológico, Talita sempre soube que precisaria lutar sem o olhar paternalista em sua vida. Morar em um ambiente com a presença de sua mãe, avó, bisavós e tia ajudou a executiva a lidar com o mundo sob uma ótica feminina, com tratamento igualitário, o que refletiu consequentemente em sua vida profissional ao lidar com situações machistas. 

“Aprendi a lidar com isso ao longo da minha carreira, nunca me deixando afetar, mas o que acabou me lapidando para quem sou hoje. Não podemos generalizar, pois é super possível trombar com pessoas sem esse machismo estrutural, e aqueles que lutam contra isso e confesso que são sempre trocas muito interessantes e construtivas. Mas ainda há frases como ‘te respeitamos como se fosse homem’, enquanto o nosso desejo é sermos respeitadas por sermos mulheres, profissionais e realizadoras”, enfatiza Talita. 

Para ela, cada mulher terá seu jeito de encarar esse machismo, porém é fundamental que nenhuma delas deve se deixar abater ou se colocar em posição de inferioridade. “Não é fácil, em alguns momentos eu também vacilei, me questionei, achei que não aguentaria ou não era boa o suficiente, mas sempre tem alguém, sempre tem alguma mulher para te dizer o quanto você é boa, o quanto você é capaz. Então, o mais importante é: seja a mulher de uma mulher que está duvidando de si mesma”, aconselha a CMO. 

Especializada em produtos como antecipação salarial e crédito parcelado para colaboradores de grandes e médias empresas, o BULLLA percebeu na mudança do mercado de benefícios através das novas regras do PAT (Programa de Alimentação do Trabalhador), previstas para entrarem em vigor em maio, uma oportunidade de conquistar novos clientes este ano. 

Com investimentos anunciados recentemente de R$ 80 milhões em marketing e ampliação do time comercial, o BULLLA lançou o BulllaENE unindo a inovação dos benefícios flexíveis e a ampliação de aceitação através de um cartão com bandeira Mastercard ao seu já conhecido produto de crédito com aprovação universal para todos os colaboradores da empresa conveniada. A empresa tem hoje cerca de 200 colaboradores e projeta originar mais de R$ 400 milhões em operações de crédito.

Prêmios de incentivo

Sempre antenada ao uso da tecnologia na vida prática do consumidor e das empresas, Luciana Ramos, captou as principais dores do mercado e buscou soluções que resolvessem esses desafios. Após essa análise, percebeu que o setor de premiação ainda era muito incipiente e manual. 

Em 2018, ao se reencontrar com Nani Gordon, que estava de volta ao Brasil após um período de dois anos morando em Chicago e empreendendo no Qatar, as sócias deram início ao processo de abertura de empresa e pesquisa profunda de gargalos e oportunidades que viriam a ser a Cashin, multiplataforma 100% digital de prêmios de incentivo. A empresa foi pioneira ao criar a primeira prática instantânea e simplificada de envios de prêmios digitais, entregando os valores em apenas dois cliques.

CEO da Cashin, Luciana Ramos atuou por mais de 25 anos no varejo do vestuário em várias grandes marcas, como C&A, Arezzo, Le Lis Blanc, entre outras. Com conhecimentos acumulados nessa área, a executiva fundou também uma trading em Hong Kong, em 2009, no momento em que o mercado apresentou um crescimento exponencial. Liderando as importações de grandes varejistas para o Brasil, ela foi pioneira no processo de intermediação de importação de vestuário na época. No mesmo período, fundou também uma varejista de roupas e expandiu a marca, chegando a 20 lojas ao redor do Brasil. 

“Liderando a Cashin, óbvio que percebo às vezes o sexismo e falta de vozes femininas nesse setor. Mesmo que isso nunca tenha impedido o crescimento da empresa, nos ajudou a ser mais fortes e determinadas”, destaca a CEO.

Seu conselho para mulheres que vivem a mesma situação é o conhecimento. “Sempre se posicione, fale com propriedade sobre o seu modelo de negócios, se prepare e se municie por meio de resultados aplicáveis, mostre que você possui conhecimento sólido no nicho que você empreende. Una-se a outras empreendedoras mulheres, executivas, gestoras, CEOs, participe de organizações de fortalecimento ao empreendedorismo feminino e de apoio a novas entrantes”, aconselha Luciana.

Nani Gordon, CPO da empresa, atuou na indústria da moda entre 2004 e 2017, se tornando diretora de produto e importação com apenas 25 anos. Nani auditou aulas em Kellogg, escola de negócios da Universidade Northwestern e estudou na DePaul University, ambas em Chicago. Também foi responsável pelo lançamento da OOLA, marca de roupas esportivas para mulheres muçulmanas, sendo pioneira neste nicho.

“Um desafio pessoal que impactou diretamente minha carreira foi a virada de chave que gerou a gênese da Cashin, quando decidi pivotar de segmento de atuação. Já estava de certa maneira bem-sucedida com uma carreira consolidada no varejo, mas com aquela sensação de não ter realizado o grande projeto de minha vida. E que, se eu quisesse buscar esse sonho, precisaria apostar alto”, conta Nani. A Cashin começou a operar no mesmo mês em que a executiva foi mãe pela primeira vez. “Isso me trouxe um desafio enorme ao precisar de malabarismo para preencher as duas funções”, complementa.

A Cashin nasceu com o propósito de revolucionar o mercado de prêmios de incentivo, geralmente distribuídos por meio de cartões presente físicos. O negócio já movimentou R$ 90 milhões até dezembro do ano passado e tem previsão de mais que dobrar esse TPV (volume total de pagamentos), atingindo R$ 200 milhões em 2023. Atualmente, a empresa tem na carteira mais de 120 clientes, atendendo algumas das maiores companhias do país, como por exemplo, Ambev, Arezzo, Coca Cola, Melitta, Nestlé, entre outras.